A Polícia Federal realizou no mês passado, já sob a administração Lula, uma operação com busca e apreensão para apurar uma suposta ligação entre a organização criminosa PCC e o pagamento da defesa de Adélio Bispo de Oliveira, o autor da facada em Jair Bolsonaro em 2018. A informação foi revelada pela Folha de S. Paulo.
A operação mirou um dos advogados que trabalharam na defesa de Adélio. Ao contrário do que acontece geralmente, a deflagração dela não foi divulgada pelo setor de comunicação da PF.
O juiz que autorizou a operação emitiu sua decisão em 11 de novembro, com as eleições presidenciais já encerradas, e levou em consideração pagamentos fracionados de R$ 315 mil realizados em 2020 para uma firma em nome de Fernando Magalhães, um dos advogados da banca que defendeu Adélio até o fim de 2019. Em sua decisão, o juiz Bruno Savino diz que “é razoável inferir que o pagamento fracionado de R$ 315 mil tenha constituído auxílio prestado pela referida facção para o custeio dos advogados do autor do atentado, lançando mão dos recursos movimentados pelo chamado Setor das Ajudas do PCC”.
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Além disso, haveria no livro-caixa de Zanone Oliveira Junios, que liderava a defesa, um pagamento de R$ 25 mil e a rubrica “caso Adélio”. Um grupo de trocas de mensagens entre advogados no aplicativo WeChat também teria o nome “Adélio PCC”.
Zanone e seus sócios deixaram a defesa de Adélio em 2019 e até hoje sustentam ter recebido R$ 5 mil de um patrocinador que nunca foi revelado. Investigadores da PF, no entanto, acreditam que eles teriam aceitado a causa de graça, pela notoriedade que o caso traria. Magalhães nega envolvimento com o PCC.
Internamente, o sigilo da PF é explicado para não prejudicar a investigação ainda em andamento. A atual cúpula da PF também discordaria da linha investigativa, alegando que não há indícios de ligação do PCC com o caso da facada. Os seis mandados de busca e apreensão que foram cumpridos na operação do mês passado ocorreram no mesmo dia (14 de março) de outra operação da PF contra traficantes, em Minas Gerais.
Para a direção da PF, o movimento da investigação na direção do PCC tem a ver com o período sob a influência de Jair Bolsonaro. O caso já foi investigado sob a supervisão de dois delegados: o primeiro, Ricardo Morais, concluiu não haver mandante no atentado a Bolsonaro. Ele foi depois substituído Martin Bottaro em dezembro de 2021.
O atentado contra Bolsonaro aconteceu em 6 de setembro de 2018. Ele era candidato à presidência em ato de campanha em Juiz de Fora (MG). Adélio foi preso no mesmo dia e confessou ser o autor da facada. Em 2019, ele foi sentenciado, tendo sua prisão preventiva convertida em internação por tempo indeterminado no presídio. Foi constatado no inquérito que ele é inimputável por apresentar quadro de doença mental.