O retorno do manto do povo Tupinambá ao Brasil, após três séculos em Copenhague, na Dinamarca, vem gerando polêmica entre o Museu Nacional e os povos indígenas. A peça sagrada representa um ancião para o povo Tupinambá, que planejava recepcionar o manto seguindo as tradições necessárias daquela cultura. Porém, o item histórico foi armazenado no acervo e só posteriormente os indígenas foram comunicados.
Neste domingo (14/7), o diretor do museu emitiu nota admitindo a polêmica, mas afirmando que “nem todas as solicitações poderiam ser atendidas”, devido a questões financeiras e à fragilidade do material. Já o Conselho Indígena Tupinambá de Olivença (CITO) alega que acordos foram quebrados, pois estava estabelecido que haveria uma recepção coordenada pelo povo Tupinambá ao manto, como os anciões orientavam, para o bem espiritual do povo e do próprio manto.
“Fomos profundamente surpreendidos quando Jamopoty [Cacica Jamopoty Tupinambá] foi informada que o manto havia retornado e que já estava no Museu Nacional do Rio de Janeiro, e que seria inviável organizar uma recepção antes da abertura ao público. O manto retornou para nós, mas ainda não foi recepcionado pelo nosso povo de acordo com nossas tradições”, lamenta o Conselho.
O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, escreveu que “seria ilusão pensar que um assunto como este não iria despertar polêmica”. A nota alega ainda que estava claro que “caberia à Direção do Museu a responsabilidade da segurança da peça”, mas que seria respeitada a vontade dos povos originários de realizarem seus rituais sagrados antes de qualquer apresentação pública. “Também foi avisado que havia procedimentos que teriam que ser realizados após a chegada do manto.”
Alexander também cita que o item estava há pelo menos 350 anos em um país com condições climáticas bem distintas do cenário brasileiro e “precisa de um período de adaptação para a sua segurança”. Nas redes sociais, o texto oficial do diretor foi alvo de críticas.
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O manto
A peça, de 1,2 metro de comprimento, é feita com penas vermelhas de pássaros guarás fixadas em uma rede de fibras naturais e é usada tradicionalmente por caciques e líderes indígenas em rituais.
O manto estava desde 1689 sob a guarda do Museu Nacional da Dinamarca e chega ao Brasil depois de dois anos de negociação entre o Museu Nacional brasileiro, a Embaixada do Brasil na Dinamarca, o Itamaraty e líderes indígenas brasileiros como Glicéria Tupinambá, Valdelice Tupinambá e Cacique Babau.
Desde 2000 o povo Tupinambá clama pelo retorno do manto ao Brasil. Naquele ano, o objeto foi exposto na Mostra do Redescobrimento, em São Paulo, mas somente em julho de 2023 que a Dinamarca atendeu ao pedido.
*com informações do Metrópoles