Mensagens obtidas pela Polícia Federal, e divulgadas hoje, 15, mostram o tenente-coronal Mauro Cid, ex-auxiliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, orientando pagamentos de despesas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e seus parentes com dinheiro vivo. Elas também mostram Cid orientando às assessoras que depositassem valores em uma conta bancária de Michelle.
A prática de pagamentos em dinheiro vivo, segundo a Polícia Federal, serve para dificultar a origem do dinheiro. Em relatório ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF diz ver indícios de desvio de dinheiro público, em valor ainda a ser apurado.
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Cid teve seu sigilo de mensagens quebrado em 2021, dentro do inquérito sobre o vazamento de dados sigilosos com o objetivo de atacar o sistema eleitoral. Ele foi preso no início deste mês, sob suspeita de envolvimento em adulteração de dados de vacinação do ex-presidente Bolsonaro, de sua filha e da família do próprio Cid dentro do sistema do Ministério da Saúde.
Em grupo de aplicativo de mensagens, os funcionários que atendiam Bolsonaro e Michelle pediam a quitação de despesas da então primeira-dama e de parentes dela e enviavam, em seguida, os comprovantes de pagamento. As mensagens comprovam pagamentos mensais a Rosimary Cardoso Cordeiro, amiga de Michelle, totalizando cerca de R$ 10 mil.
O pagamento de um boleto de despesa médica de Maria Helena Braga, tia da ex-primeira-dama, no valor de R$ 950,27, provocou um alerta de Cid no grupo. Segundo a PF:
“Mauro Cid encaminha orientação do Exmo. Sr. Presidente da República, no sentido de o pagamento do boleto GRU [Guia de Recolhimento da União] ser feito em dinheiro para ‘evitar interpretações equivocadas'”.
No fim de setembro de 2021, o pagamento referente a Yuri Daniel Ferreira Lima, irmão de Michelle, no valor R$ 585, fez com que Cid gravasse a seguinte mensagem de áudio:
“Não tem como mandar esse tipo de boleto. Quando for assim, me manda só o pedido do dinheiro e vocês pagam por aí, porque isso não é gasto do presidente. Nem da dona Michelle! É, deve ser de um terceiro que ela está pagando aí, a conta desse terceiro aí!”.
A assessora pergunta, então, se poderia buscar o dinheiro em espécie. Mauro Cid concorda.
A PF ainda investiga a origem dos recursos usados pelos ajudantes de ordem da Presidência da República para bancar esses depósitos e pagamentos.