Foram divulgadas mais informações sobre a investigação da Polícia Federal contra um grupo suspeito de ser responsável direto por uma das maiores áreas desmatadas no país, se não a maior. O grupo comandado pelo empresário Bruno Heller é suspeito de “grilar” e desmatar 22 mil hectares – equivalentes a mais de 20 mil campos de futebol – de terras da União no estado do Pará para servir de pasto a gado.
Segundo as investigações, ao menos nos últimos 10 anos, o grupo invadiu e desmatou terras da União, sendo responsável por danos ambientais que chegam a R$ 116,5 milhões. Heller usava parentes, notadamente a filha Tatiana, como “laranjas”.
A PF aponta que o grupo invadia áreas públicas da União, colocava o nome de familiares de Bruno no Cadastro Ambiental Rural (CAR), e buscavam regularizar junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). As propriedades ficam na região de Novo Progresso (PA). Eles fatiavam de forma fictícia esses imóveis rurais e devastavam a vegetação. O objetivo seria burlar as multas ambientais, “de modo que qualquer imputação acabe recaindo sobre pessoas sem patrimônio”, de acordo com a PF.
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Em uma conversa de janeiro deste ano obtida pela PF, Tatiana é flagrada com um interlocutor pelo WhatsApp, na qual ela fala em “botar pra derreter essa Amazônia” e “Sair metendo fogo em tudo q for mato”. Veja abaixo:
Além da família, ainda participava do esquema a empresa Guará Agroserviços, que mapeava a área a ser desmatada e fornecia um caminho organizado e método para otimizar o trabalho. Funcionários da empresa acompanhavam o ritmo do desmatamento via satélite. A corporação aponta que o engenheiro por trás da organização seria Bianor Emílio Dal Magro, que atua há mais de 30 anos na região de Novo Progresso.
Além disso, a advogada do grupo, Rafaele Dal Magro, filha de Bianor, pagou ao delegado da Polícia Civil Jardel Magalhães, que é ex-vereador de Santarém, e a um agente da polícia para amenizar o relatório de uma fiscalização que flagrou sete pessoas derrubando árvores com uso de motosserras em uma área pública da União ocupada pelo grupo. Ela teria atuado, segundo relatório da PF, em pagamento de propinas para que a fiscalização e as multas ambientais sobre terrenos do grupo fossem mais brandas.
A PF ainda investiga a possibilidade de existência de servidores que concediam acesso a dados sigilosos do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ao grupo. Em uma das conversas entre Tatiana e Rafaele, a advogada dá a entender que tem acesso privilegiado a essas informações.
A defesa da família Dal Magro disse que “há uma distorção dos fatos apresentados pela Polícia Federal, e isso será devidamente esclarecido durante o processo”. Já a defesa de Bruno e Tatiana Heller pontuou que o grupo familiar atua desde os anos 1970 contribuindo “para o desenvolvimento econômico da área de Novo Progresso e Itaituba”.
Em depoimento em agosto, Bruno Heller negou ser o responsável pelo cadastro e por alterações nas áreas registradas em nome de parentes. No entanto, ele não soube dar um motivo claro para o qual toda a documentação, com procurações que lhe davam poderes ilimitados a ele, estavam guardadas em sua casa, segundo a PF.
Com informações de Metrópoles
