Moradores do bairro do Bom Parto, em Maceió, foram obrigados a sair de suas casas às pressas e deixar tudo para trás por causa do risco iminente de colapso da mina de sal-gema da companhia Braskem, na região do Mutange.
Uma decisão da Justiça Federal emitida nesta quinta-feira, 30/11, autorizou que o estado use a força policial caso as pessoas resistam a deixar o local.
A Justiça determinou a desocupação de 23 residências nas áreas mais próximas do Mutange, como Bom Parto e Bebedouro. A medida atende um pedido do Ministério Público Federal (MPF). Cinco bairros da capital alagoana são afetados pelo risco de afundamento pela extração de sal-gema pela Braskem: além do Mutange, Bom Parto e Bebedouro, as áreas de Pinheiro e Farol.
Já a Defesa Civil de Alagoas informou nesta manhã que o “pior cenário” para o desabamento do solo na região seria uma cratera que poderia chegar a 300 metros de diâmetro, do tamanho do estádio do Maracanã. Foi decretada situação de emergência na cidade de Maceió.
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Segundo os técnicos do município, o afundamento dos bairros é questão de tempo. Nas últimas 48 horas foi registrado um afundamento de 1 metro e 6 centímetros do solo. Antes, esse afundamento vinha sendo de 50 cm por dia, segundo a TV Gazeta.
A marisqueira Marivânia dos Santos Venâncio, que mora na região afetada, disse:
“Eles falaram que a gente tinha de sair né, de qualquer jeito. E aí chegaram lá com dois ônibus, situação foi essa que generalizou lá uma confusão porque muitos não aceitaram, porque a gente já vive indignada há muitos anos, muitos meses e anos, e aí eles chegaram do nada, pra retirar todo mundo”.
Entenda o que causou o desastre:
O afundamento do solo é causado pelas minas de sal-gema da indústria petroquímica Braskem, que criou espécies de “ocos” no subterrâneo. A mineração em Maceió começou na década de 1970, com a Salgema Indústrias Químicas S/A, que depois passou a se chamar Braskem. Já o sal-gema é um minério usado na fabricação de soda-cáustica e PVC.
Em fevereiro de 2018, surgiram as primeiras rachaduras no bairro do Pinheiro, uma delas com 280 metros de extensão. No mês seguinte, um tremor de magnitude 2,5 foi registrado, o que agravou a situação.
No ano seguinte, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) confirmou que a mineração provocou danos ao solo. Foram então emitidas as primeiras ordens para evacuação para moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Com o problema se agravando, a ordem também foi ampliada para parte do Bom Parto e do Farol. Desde então, mais de 14 mil imóveis foram abandonados na região, afetando cerca de 55 mil pessoas e transformando áreas antes habitadas em bairros fantasmas.
A Braskem iniciou trabalho de fechamento e estabilização das minas na região do Mutange e do Bebedouro. Porém, só no mês de novembro foram sentidos cinco terremotos na área afetada, o que resultou no alerta da Defesa Civil de Maceió sobre o colapso numa das minas.
O professor da UFAL Abel Galindo, engenheiro civil com mestrado em geotecnia pela UFPB, avalia que há uma grande probabilidade de o desabamento da mina 18 afetar também duas minas vizinhas, formando uma cratera em que caberia o estádio do Maracanã. O colapso afetaria a área de mangue na região “de forma bastante trágica”, segundo o especialista.
*Com informações de G1 e Metrópoles.