O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, morreu nesta terça-feira (13/5), aos 89 anos. A informação foi confirmada pelo atual chefe de Estado, Yamandú Orsi, que lamentou publicamente a perda: “Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que nos deu e pelo seu profundo amor pelo povo”, escreveu em nota.
Mujica enfrentava um câncer no estômago, diagnosticado em abril deste ano. À época, ele revelou que a doença havia comprometido gravemente o órgão e agravava um quadro imunológico delicado com o qual convivia há mais de duas décadas.
Ícone da esquerda latino-americana e símbolo de uma política austera e popular, Mujica governou o Uruguai entre 2010 e 2015. Seu mandato ficou marcado pelo aumento expressivo dos investimentos sociais — que passaram de 60% para 75% do gasto público —, além de reformas progressistas como a legalização da maconha e o aumento de 250% no salário mínimo.
Antes da carreira institucional, Mujica teve papel central na luta armada durante os anos 1960, como integrante da guerrilha dos Tupamaros. Ferido em confrontos e preso em várias ocasiões, passou 14 anos encarcerado, grande parte sob regime de isolamento, durante a ditadura militar uruguaia.
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Libertado em 1985 com a anistia, migrou para a política tradicional. Fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), foi eleito deputado em 1994 e, mais tarde, senador. No governo do também esquerdista Tabaré Vázquez, tornou-se ministro da Agricultura, antes de ser eleito presidente.
Famoso por seu estilo de vida modesto, Mujica morava em um sítio nos arredores de Montevidéu, dirigia seu próprio Fusca 1987 e doava a maior parte de seus vencimentos a programas sociais. Após deixar a Presidência, voltou ao Senado, de onde se afastou em 2020, durante a pandemia, por razões de saúde.
Nos últimos anos, dedicou-se à vida no campo, cuidando da horta ao lado da esposa, a ex-senadora Lucía Topolansky. Afastado da religião formal, Mujica dizia admirar a natureza. “Sou quase um panteísta”, afirmou em entrevista. Seu legado político e pessoal é lembrado por milhões como um exemplo de coerência, simplicidade e compromisso social.