
Dia do Psicólogo: como a profissão se reinventou e avançou na era pós-pandemia
O papel do profissional da psicologia se tornou imprescindível nos dias atuais, principalmente no pós-pandemia, quando assuntos como depressão, ansiedade e pânico se tornaram menos tabus e a saúde psicológica ganhou espaço no mundo todo.
A busca por atendimento psicológico cresceu de forma significativa nos últimos anos, impulsionada por quadros de ansiedade, depressão e síndrome do pânico, que se intensificaram no período de isolamento social.
Especialistas destacam que a psicologia tem sido essencial na reconstrução da saúde mental da população, oferecendo acolhimento e estratégias para lidar com os desafios do mundo pós-pandêmico.
Atuando na área desde 2014, a doutora Vanessa Abitbol, psicóloga e fundadora da Clínica Neurallis, voltada para transformar ansiedade em oportunidade funciona de forma 100% on-line, a profissional acompanhou todo o processo de modernização do processo dos atendimentos, muitos desses, acelerados devido ao período da pandemia de covid-19, que durou entre 2020 a 2023, anos em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o fim da pandemia.
A psicologia antes e depois da pandemia
Assim como ocorreu com todas as profissões, a psicologia precisou se reinventar no seu modo de atuação. Os profissionais da área, que muitas vezes estiveram na linha de frente, ajudando na saúde mental da sociedade amedrontada pelo covid-19, precisou lidar com os mesmos medos e angustias que foram tão fortes naquele período, conforme contou a doutora Vanessa a nossa reportagem.
“Eu me vi tendo que acolher pessoas enquanto também tentava me manter em pé. Perdi familiares, tive que lidar com o luto, com o medo, com a sensação de desamparo. Foi um período que me forçou a crescer de um jeito que eu não planejei”, contou a especialista.
Segundo ela, a pandemia convidou a todos para um amadurecimento profissional, e mesmo enfrentando a dor e o luto, os profissionais da área também precisaram ajudar seus pacientes a lidar com os mesmos sentimentos. A própria explica como a ciência da psicologia foi modificada nesse período.

“Hoje, a psicologia se tornou mais flexível, mais real. A escuta ficou mais afinada, o olhar mais sensível. A gente entendeu que não dá mais pra atender do mesmo lugar de antes, com as mesmas estruturas rígidas. No fim, a pandemia não só impactou nosso jeito de trabalhar, ela remodelou nosso jeito de sentir, de escutar e de existir como profissionais da saúde mental”, declara.
Outra mudança neste cenário apontado pela doutora Vanessa, que veio no pós-pandemia, foi a quebra do tabu. Assuntos como depressão, ansiedade e crises de pânico se tornaram mais comuns na sociedade. Antes, uma boa parcela da sociedade tratava tais transtornos como “drama”, até que precisaram enfrentar esses males.
“Infelizmente, por muito tempo, saúde mental foi tratada como ‘frescura’, ‘falta do que fazer’. Muita gente só considerava que era sério quando o corpo dava um sinal muito claro, como uma crise de pânico ou uma depressão que te derruba da cama. Mas durante a pandemia, isso bateu na porta de quem menos esperava, inclusive de quem zombava ou desacreditava”, refletiu a profissional, afirmando que a pandemia deixou claro que “ninguém é blindado emocionalmente”.
Antes da pandemia, o trabalho da doutora Vanessa Abitbol era voltada para a esfera pública, atuando em secretarias e na coordenadoria do CRAS. Em 2020, ao se mudar para a cidade de Curitiba, no estado do Paraná, precisou se reinventar.
“Eu costumava pensar: ‘sou psicóloga, não vou ficar sem trabalho nunca’. Até que precisei mudar de cidade. A pandemia tava no auge e, pela primeira vez, me vi num lugar onde o ‘sou psicóloga’ não bastava”, contou, explicando que foi desafiador começar de novo em uma nova cidade, no meio da pandemia.
Após um período turbulento atuando em atendimentos em plano de saúde e sofrendo um desgaste emocional, que a levou a episódios de ansiedade em meio as lutos pessoais, Vanessa decidiu abrir sua própria cínica, a Neurallis já adaptada para a nova realidade do mundo.

“Hoje, a Neurallis é 100% online. E isso me permite atender pessoas do Brasil todo e até do exterior, o que me emociona, porque é a certeza de que saúde mental pode chegar em qualquer canto do mundo”, contou, mas sem deixar de reforçar a barreiras que enfrentou para levar o projeto adiante.
“O cenário mudou. Mas ainda é um desafio diário. Porque por mais que o online tenha facilitado muita coisa, ele também exige da gente criatividade pra não deixar o vínculo esfriar. Então eu envio kit de boas-vindas, material de apoio, faço questão de mostrar que o cuidado não se limita à tela. O atendimento online, feito com intenção, pode ser tão acolhedor quanto o presencial”.
Após enfrentar tantas dificuldades, barreiras e desafios de cunho pessoal, a doutora Vanessa Abitbol, se sente no caminho certo, mas ainda entende que há um longo caminho a percorrer, e ela encerra a conversa com a reportagem da Rede Onda Digital com uma mensagem para aqueles que desejam ingressar na faculdade de psicologia, ou que já estão no curso.
“Nunca trate o outro como apenas mais um prontuário. Nunca esqueça que você está lidando com uma vida. Cada paciente é uma história única, com dores, sonhos, memória, e é uma grande responsabilidade estar ali”, reflete.
“Tenha carinho. Tenha ética. Se atualize sempre. Esteja presente de verdade. Porque tudo o que você fizer, como psicólogo, vai deixar marcas. E, infelizmente, algumas pessoas vão passar por profissionais que deixaram marcas negativas. Por isso, que você seja sempre aquele que deixa marcas positivas”, conclui.
