Honestino, do cineasta amazonense Aurélio Michiles, é ovacionado no Festival do Rio

O produtor Nilson Rodrigues, o ator Bruno Gagliasso e o cineasta amazonense Aurélio Michiles, no Festival do Rio. (Divulgação)
Honestino, filme do cineasta amazonense Aurélio Michiles, foi ovacionado na abertura oficial do Festival do Rio, e emocionou o público no Cine Odeon, no centro do Rio de Janeiro. A obra revisita a trajetória do líder estudantil e ex-presidente da União Nacional dos Estudanes (UNE) Honestino Guimarães, desaparecido durante a ditadura militar, combinando elementos de documentário e ficção.
Quando recebeu o convite para dirigir o longa, Aurélio Michiles, que era amigo de Honestino e também participava do movimento estudantil, revela que a decisão foi difícil.
“O Honestino sempre esteve no horizonte das minhas realizações. Sempre pensei em contar a história dele, mas não tinha coragem, porque é também a nossa história, a de um Brasil injusto, violento, que matou milhares de brasileiros”, disse o diretor.
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Docudrama estrelado por Bruno Gagliasso
O documentário, produzido por Nilson Rodrigues, adota uma linguagem híbrida, combinando entrevistas e imagens de arquivo com cenas ficcionais interpretadas por Bruno Gagliasso. Essa opção estética aproxima o personagem do presente e dá fluidez ao relato, colocando o espectador diante de uma história que não está encerrada.
“Nosso propósito é não deixar o personagem congelado numa fotografia antiga, mas torná-lo tangível, vivo. O ontem é hoje e o hoje pode ser o futuro”, define Michiles.
A motivação para dirigir o filme, segundo ele, surgiu de forma inesperada, ao assistir a um vídeo da neta de Honestino Guimarães durante a reinauguração da Ponte Honestino Guimarães, em Brasília.
“Ela dizia que gostaria de ouvir a história do avô contada por ele mesmo. Aí pensei, chegou a hora de contar essa história”, relembrou Michiles.
O resultado é um docudrama que combina depoimentos reais, imagens de arquivo e dramatizações para reconstruir a trajetória do ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), desde 1968, quando liderava o movimento estudantil, até a sua prisão e desaparecimento em 1973, aos 26 anos de idade.
O ator Bruno Gagliasso interpreta o papel principal e destaca o simbolismo do projeto.
“É um filme muito simbólico. Tentaram silenciar o Honestino há 50 anos, mas o silêncio não venceu. Ele defendia educação, liberdade e democracia. É um filme sobre o presente, não sobre o passado”, disse.
Cineasta da Selva
Não é a primeira vez que Michiles trabalha com este tipo de narrativa, posto que um de seus filmes de maior sucesso, “Silvino Santos, o Cineasta da Selva” (1997), também misturava cenas reais com ficcionais, tendo o ator José de Abreu interpretado o portugues que revolucionou os primórdios do cinema brasileiro filmando a Amazônia a partir de Manaus, onde contava com o patrocínio da casa J. G. de Araújo Jorge.
Além de contar a trajetória de Silvino, Aurélio Michiles também fez a cinebriografia do amazonense Cosme Alves Neto (2015), “Tudo por amor ao cinema” (2015), que conta a história dele como um dos curadores da Cinemateca Nacional do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro durante a ditadura militar.
O último filme de Michiles foi o Segredos do Putumayo (2020), que narra o massacre de indígenas peruanos da etnia Putumayo promovido pela empresa britânica Peruvian Amazon Company, narrado pelo então consul britânico no Brasil Roger Casement.
Aurélio Michiles começou a fazer cinema em Manaus após cursar a faculdade de Arquitetura na Universidade de Brasília (UNB), onde tomou conhecimento da obra a arquiteta Lina Bo Bardi, cuja trajetória é contada no documentário (1993). que leva o nome dela.
Na linha de retratar a Amazônia, Michiles também filmou Ajuricaba, O Rebelde do Amazonas (1979), sobre o líder Manaó que preferiu se atirar nas águas do Encontro das Águas todo amarrado a ser levado a julgamento em Portugal; e “Que Viva Glauber”, que narra a visita do cineasta baiano Glauber Rocha (Terra em Transe e Deus e o Diabo na Terra do Sol) ao Amazonas, nos anos 70 do século passado.
