Bancas de revista: um negócio ameaçado pela tecnologia, mas que ainda resiste

Revistas da banca Janagi, no Boulevard, em Manaus (Foto: Alessandra Smith).
Pense bem, caro leitor, e responda: quando foi a última vez que você comprou uma revista numa banca? Se sim, qual foi? Teria sido uma Carta Capital, ou uma Veja? Uma de palavras-cruzadas? Alguma história em quadrinhos de super-heróis, ou da Turma da Mônica?
Nos últimos tempos, é mais provável que você tenha comprado uma água ou recarregado o plano do seu celular numa das últimas bancas de revistas que ainda persistem no Brasil. Não há dados oficiais para todo o país, mas uma estimativa do ano 2020 apontava que existiam 400 mil bancas pelo Brasil. Hoje, num contexto pós-pandêmico, esse número deve ter diminuído bastante.
O que era um espaço certo para consumo de informações e cultura há anos e décadas atrás, vem se perdendo cada vez mais com o passar do tempo e o avanço da tecnologia. Jornais impressos, quase não se vê mais, numa era em que as pessoas conseguem ter notícias ao alcance da mão pelo celular. Idem para revistas: a digitalização substituiu a mídia física, e no mundo dinâmico de hoje as pessoas querem informações de forma imediata, e o que aconteceu ontem geralmente não interessa mais.
E isso se reflete no hábito de leitura do brasileiro: em 2024, a 6ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” apontou que 53% dos entrevistados não leram nem mesmo parte de uma obra nos três meses anteriores à pesquisa. Foi a primeira pesquisa a apontar que a maioria dos brasileiros simplesmente não tem o costume de ler. Os dados apontam que o país tem atualmente 93,4 milhões de leitores (considerando a população com cinco anos ou mais). Nos últimos quatro anos, houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país.
O resultado é o encolhimento do mercado editorial, e isso inclui revistas e publicações em geral. Se o produto básico do mercado, no caso ou livro, ou a revista, não encontra público, obviamente o vendedor – sejam bancas ou livrarias – acaba sofrendo na outra ponta da cadeira produtiva.
Porém, o negócio físico ainda resiste, mesmo que de forma reinventada para os novos tempos. Hoje, muitas bancas não se dedicam mais à venda de revistas ou livros, mas faturam com diferentes serviços: xerox, recarga de celular, venda de água e refrigerantes. Outras resistem como sebos, atuando para vender publicações antigas para colecionadores.
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Bancas de revista em Manaus
Na capital amazonense, alguns desses negócios ainda resistem graças à reinvenção. Das 14 bancas instaladas na Avenida Eduardo Ribeiro – onde antes havia dezenas, que vendiam não só revistas, mas também DVDs e livros – somente três mantém vendas de revistas e gibis como produto principal. E ainda há outros estabelecimentos espalhados pelas zonas da cidade.
No Largo São Sebastião, coração cultural de Manaus, a Banca do Largo se especializou na venda de literatura amazonense, disponibilizando obras de autores regionais, nacionais e internacionais, grande parte deles difíceis de se encontrar nas livrarias convencionais.
No Boulevard Álvaro Maia, zona Centro-Sul da cidade, continua em operação a banca Janagi. A dona Miris Santos, que trabalha no local, falou sobre o negócio, no qual trabalha há várias décadas, e que permanece voltado às suas raízes. Ela disse:
“Faz muito tempo que a banca existe, só eu tenho quase 40 anos trabalhando aqui. As únicas coisas que a gente vende aqui, fora revistas, são refrigerantes e cigarros”.

Sobre os produtos mais vendidos, ela afirma:
“O que mais sai hoje é revista Coquetel… Mangás e revistas de heróis, também vendem bastante. Muitas pessoas procuram por revistas de bordados, mas essas não vêm mais para Manaus. E Carta Capital e Turma da Mônica também saem bastante”.
E sobre a experiência na banca, dona Mires declarou:
“Minha experiência foi muito boa. Trabalhando aqui, consegui criar meu filho, que hoje é advogado formado. Ainda temos clientes fixos que vêm aqui, como o filho da Baby Consuelo. Clientes antigos ainda vêm muito, e reclamam que muitas revistas não chegam em Manaus. O negócio resiste porque muitas pessoas ainda gostam de ler”.
