A data 25 de maio foi estabelecida por amantes da ficção científica, oficialmente, o “Dia da Toalha”, ou melhor: o Dia do Orgulho Nerd. A data foi escolhida para homenagear o escritor recém-falecido Douglas Adams, autor da série de livros “O Guia do Mochileiro das Galáxias”.
A toalha faz referência à obra de ficção científica, que afirma ser essencial que todo explorador espacial leve uma toalha em suas aventuras:
“Em parte devido ao seu valor prático: você pode usar a toalha como agasalho ao atravessar as frias luas de Beta de Jagla; pode deitar-se sobre ela nas reluzentes praias de areia marmórea de Santraginus V”, exemplifica um trecho de O Guia do Mochileiro das Galáxias.

Mas não é apenas em homenagem ao autor da obra que esse dia se tornou importante para os fãs da cultura geek. Em 25 de maio de 1977, estreava nos cinemas Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança, o primeiro filme da lendária saga de George Lucas.
Assim, o “Dia da Toalha” também passou a ser reconhecido internacionalmente como o “Dia do Orgulho Nerd”, uma data que celebra um nicho cultural composto por fãs de filmes de ficção e aventura, quadrinhos, desenhos, animes, cosplays, videogames e outros elementos que fazem parte do universo geek.
Importante destacar que não estamos falando daquele público mais casual, que assistiu a um ou outro filme do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) no cinema, ou daquele nostálgico de 40 anos que curtiu Dragon Ball Z ou Pokémon na infância.
Estamos falando de um grupo que discute por horas quem venceria uma luta entre Batman e Superman, que assiste animes em japonês com legendas em inglês durante as madrugadas de sexta-feira ou que gosta de reunir os amigos para longas sessões de jogatina em jogos como League of Legends, Valorant ou Fortnite.
E acredite, tudo isso é muito divertido, principalmente para os adeptos desta cultura, onde me incluo, sem dúvidas.
Espaço na sociedade
O Dia do Orgulho Nerd, mais do que tudo, marca uma era em que os videogames, os animes, os quadrinhos e as obras de fantasia recebem um momento de apreciação e reverência por parte do público. Com a popularização da data, o Dia do Orgulho Nerd deixou de ser algo meramente simbólico e ganhou um lugar relevante na sociedade contemporânea.
Para se ter uma ideia da força da cultura geek no mundo, a franquia de filmes de super-heróis da Marvel já arrecadou um total de US$ 30 bilhões, superando a até então líder, Star Wars.
O setor de games também ultrapassou indústrias mais antigas e bem estabelecidas, como a do cinema e da música, especialmente durante a pandemia da Covid-19. Segundo dados da Pesquisa Game Brasil de 2021, o consumo de jogos eletrônicos (em celulares, computadores e consoles) aumentou em 75% no Brasil. Atualmente, esse número está em 82,8%.
Hoje, grandes nomes da indústria musical e cinematográfica emprestam seus talentos a jogos de grande orçamento. Em 2019, o ator Norman Reedus, estrela de The Walking Dead, atuou no jogo Death Stranding, grande sucesso da empresa Sony, dona da marca PlayStation.

A cultura geek no setor econômico
Com o aumento significativo da presença da cultura geek na economia global, não é surpresa que o Dia do Orgulho Nerd tenha conquistado destaque na cena cultural e econômica.
Em Manaus, não é diferente. O amor pelo desenho e pelo universo geek já resultou em empreendimentos de sucesso.

Esse é o caso do empresário Arilson Marinho, de 27 anos, proprietário da Action PRO, loja especializada em action figures (bonecos de exposição feitos para colecionadores) e outros acessórios com personagens de obras populares.
Arilson transformou a paixão por animes no grande negócio da sua vida. Hoje a loja conta com duas unidades, uma na Avenida Getúlio Vargas, no Centro de Manaus, e outra no Shopping Grande Circular.
“Desde pequeno, sempre gostei de desenhar na sala de aula. Minha vida também girava em torno de assistir animes, até entender que havia essa divisão entre desenho e anime. Sempre quis fazer algo com arte. Mas não queria apenas vender meus desenhos, então procurei empreender”, conta Arilson, que vendeu seus primeiros trabalhos em uma feira de usados.

“Foi um espanto, porque lá na feira só se vendia roupa usada, camisas de time, comida. E o anime estava começando a crescer naquela época, né? A gente só conseguia acessar produtos de anime em eventos que aconteciam aqui em Manaus. Começamos a vender lá. As coisas começaram a dar certo. Eu fazia faculdade, técnico… Quando terminei, foquei totalmente na Action”, explicou.
Além de vender assessórios do universo geek, Arilson também se especializou em confecção de blusas, canecas e até mesmo kimonos.
A loja passou por diversos altos e baixos, como assaltos e o período da pandemia, momento em que o empreendimento se reinventou trabalhando com delivery.

“Tinha dias que saía com 20, 40 entregas. E era praticamente um Papai Noel com uma sacola gigante. E ia entregando por volta de Manaus toda“, relata o empresário que também já se aventurou em fazer o seu próprio evento.
“A gente fez o nosso primeiro evento lá no Shopping Grande Circular, o Anime Action. Foi bem legal, bem legal ter essa experiência”, contou.
Os eventos dedicados ao universo geek também cresceram bastante em Manaus, como é o caso do Anime Jungle Party, que se tornou o maior da região Norte, tão conhecido quanto o Anime Friends, em São Paulo.
Eventos como esse reúnem grande público e demonstram a força da cultura geek na região, conforme explicou para a reportagem da Rede Onda Digital, Luana Cavalcante, coordenadora de marketing do Studio 5, onde acontece neste fim de semana (24 e 25 de maio) o Studio Nero, evento que celebra o Dia do Orgulho Nerd.

“Nossa expectativa é receber cerca de 300 pessoas ao longo dos dois dias de evento. Acreditamos no potencial da comunidade geek e sabemos o quanto ela é apaixonada por esse universo. A comunidade geek tem ganhado cada vez mais notoriedade, reflexo do crescimento expressivo de eventos voltados para esse público. Esse movimento impulsiona o surgimento de novas marcas e fortalece o mercado local”, diz Luana.

Cosplays
Dentro dos eventos voltados ao público geek, um dos grandes destaques são os cosplays — atividade em que o artista se veste e interpreta um personagem de ficção, seja de filmes, séries, jogos ou livros.
Embora muitos vejam o cosplay como algo infantil, a atividade é levada a sério, como nos conta a artista Thaynna da Rocha Oliveira, de 26 anos, que já faz cosplay há 14 anos.
“Sempre gostei de teatro e tinha talento para confeccionar roupas e itens mesmo sem ter feito nenhum curso. Achei no cosplay um espaço onde eu podia me divertir atuando e usar minhas habilidades”, explica Thaynna, que também revelou qual seu personagem favorito entre os que já representou.

“Usei muitos personagens ao longo desses anos. Acho que meus favoritos foram a Zoey, de Fortnite, Maka Albarn, de Soul Eater, e Maki Oze, de Fire Force. Sem dúvidas, a Zoey é uma das favoritas do público, por ser muito colorida e ter um cabelo chamativo. As crianças adoram”, contou.
A personagem em questão faz parte de um dos jogos online mais populares da atualidade, Fortnite, da Epic Games.
Preconceito e discriminação
Embora o segmento geek/nerd siga em expansão na região Norte, esse nicho ainda enfrenta muitos obstáculos. O principal deles é o preconceito.
Mesmo com animes e videogames que trazem conteúdos mais profundos, adultos e até violentos, ainda existe o tabu de que esses produtos são voltados apenas para crianças.
Arilson Marinho, que já atua há bastante tempo nesse meio, refletiu sobre o cenário de antigamente e o atual.
“É interessante lembrar que, alguns anos atrás, isso era meio esquisito. As pessoas eram criticadas, sofriam bullying por serem chamadas, entre aspas, de otaku. Mas, de uns anos para cá, os animes se popularizaram. Com a chegada nas plataformas de streaming, a influência dos jogos… Tudo isso agora se resume no geek. Antigamente, sair de cosplay era motivo de preconceito. Hoje, é mais tranquilo.”
Thaynna ainda sente o peso do preconceito com a arte do cosplay.

“Sem dúvidas, ainda somos olhados de forma estranha e muita gente acha que se trata de um bando de adultos desempregados. Mas cosplay é um hobby caro, e para manter você precisa ter um emprego. Eu mesma sou biotecnóloga, e diversos outros cosplayers são bombeiros, advogados, médicos, designers etc. Infelizmente, o preconceito ainda existe, mas aos poucos estamos desconstruindo esse olhar equivocado que as pessoas têm sobre essa arte incrível”, frisou a artista.
Mesmo com o preconceito, o mercado geek se tornou essencial para o fomento econômico de diversas regiões. Atraindo um público cada vez mais fiel e entusiasta, o Dia do Orgulho Nerd é apenas uma amostra da importância desse novo nicho de mercado, que encontra nos games, nos animes, nas HQs e no cosplay uma identificação genuína.
Um universo que enriquece a cultura e apresenta um mundo fascinante, onde o conhecimento se expande, os laços de amizade se fortalecem e uma comunidade vibrante se forma.