O dólar voltou a ganhar força na sessão desta quinta-feira (26/12), mesmo após novo leilão do Banco Central (BC) para tentar conter a alta: A instituição vendeu a oferta integral de US$ 3 bilhões no leilão à vista.
A cotação da moeda norte-americana bateu R$ 6,19.
Os leilões de dólar do Banco Central são uma ferramenta de regulação do mercado de câmbio e servem para aumentar a oferta de dólares disponíveis — o que, em tese, faz a cotação cair.
Quando se analisa a história do real, percebe-se que a desvalorização é clara e sempre atrelada a momentos de instabilidade política e econômica, que provocam alterações no ânimo dos investidores e mercado. Já são quatro anos que a cotação do dólar não se apresenta abaixo de R$ 4,59: a última vez foi em 4 de março de 2020, quando a divisa fechou em R$ 4,58.
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Quando o real foi instituído no governo Itamar Franco em 1994, há 30 anos, 1 real equivalia a um dólar. O plano real foi concebido por Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, e sua equipe de economistas.
Investidas do Banco Central
O BC apresenta como missão defender a moeda: o órgão ficou responsável por estabelecer as taxas de câmbio padrão para controlar a inflação e preservar o real.
A paridade se mantém por alguns anos. A partir de 1999, já como presidente da República, FHC (PSDB) banca um modelo para manter a estabilidade da economia brasileira: o tripé macroeconômico. Esse suporte sustentaria o país com a perseguição de metas de inflação, responsabilidade sobre as contas públicas e um câmbio flutuante.
Oferta e procura
Ao adotar o regime de taxas flutuantes, a partir de 15 de janeiro de 1999, o BC não intervém diretamente para determinar o câmbio, definido pelo fluxo do mercado. A lógica do sistema é simples, a da oferta e da procura: quando há escassez de moeda estrangeira, a taxa de câmbio sobe e a moeda local desvaloriza, e vice-versa.
A depreciação do real se deu num salto no primeiro momento, mas não durou. O dólar passa os próximos dois anos cotado entre R$ 1,80 e R$ 2.
Outro momento de alta foi em 2002, quando houve insegurança do mercado quanto à primeira eleição vencida por Luís Inácio Lula da Silva (PT). No pico, após o 1º turno da eleição presidencial, o dólar foi a R$ 3,50.
Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos, explicou:
“Qualquer mudança de governo deixa os investidores nervosos por não saber qual vai ser a condução da política monetária e fiscal. Foi necessário um recálculo de quanto seria o dólar real, corrigido pela inflação”.
Houve temor se a administração Lula manteria o tripé macroeconômico, mas ele não se justificou. Foi o momento em que houve uma grande impulsão da economia do país.
Outro pico de alta do dólar
Em 2008, veio outro pico na cotação do dólar, agora provocado pela grande crise financeira internacional, desencadeada após a falência de grandes bancos nos Estados Unidos, que enfrentavam a alta da inadimplência no país com a quebra do subprime, uma categoria de crédito ligada a maus pagadores. Lula ainda era presidente, então em seu segundo mandato. A cotação da moeda americana ficou em torno de R$ 2,50.
Anos depois, já durante a presidência Dilma Rousseff (PT), começou um cenário de recessão no país, entre 2014 e 2016. A crise foi ampliada pelos desdobramentos da Lava Jato e instabilidade política no Brasil. Houve subida na taxa de juros e aumento do desemprego.
Após a saída de Dilma e a posse de Michel Temer (MDB), em 2016, o dólar passou um período mais estável, na casa dos R$ 3,20.
A cotação voltou a subir ao longo de 2018, ano de mais uma eleição presidencial, quando Jair Bolsonaro (PL) foi eleito. Entre aquele ano e o começo de 2020, a moeda era cotada na faixa dos R$ 4.
Crescente após a pandemia
Em 2020, com a pandemia de Covid, o valor do dólar voltou a subir e não baixou mais desde então.
Veja no gráfico abaixo a desvalorização da moeda brasileira ao longo das décadas:
Atualmente, além das instabilidades internas, o cenário internacional também não parece ser favorável para uma descida do valor do dólar. Investidores ainda estão digerindo o comunicado da reunião do Federal Reserve (Fed, Banco Central norte-americano), que indicou menos cortes no próximo ano nos Estados Unidos. O início da nova administração Donald Trump no país pode também trazer instabilidade para o mercado.
Com informações de CNN Brasil e G1