O chocante assassinato de Vitória Regina de Souza, de 17 anos, tem gerado muitas questões desde que o corpo da adolescente foi encontrado na tarde desta quarta-feira (05/03). O crime ocorreu em Cajamar, na Grande São Paulo.
Linha do tempo do caso
Vitória desapareceu na noite do dia 26 de fevereiro, enquanto voltava para casa, onde morava com os pais. A jovem trabalhava em um shopping da cidade e, na noite do crime, trocou mensagens de áudio com uma amiga, conforme consta nas transcrições abaixo:
“Passaram uns caras de carro e falaram: ‘E aí, vida? Tá voltando?’. Ai, meu Deus do céu, vou chorar. Vou mexer no celular. Nem vou ligar para eles.”
“Ah, deu tudo certo. Eles entraram na favela. Uhh… saiu até lágrima dos meus olhos agora. Nossa, até me arrepiei.”
“Na hora em que eles passaram do outro lado e falaram ‘Aê, vida’… aí eles voltaram. Falei: pronto, esses meninos vão voltar aqui. Mas aí eles entraram ali na favela.”
“Quando acontecem essas coisas, eu não consigo correr. Eu paraliso. Eu não sei o que fazer. Eu não consigo correr. Eu fico parada.”
Em seguida, a jovem relatou estar sendo seguida dentro do ônibus por outros dois rapazes:
“Tem uns dois meninos aqui do meu lado.”
“Tô com medo.”
“Um ficou e o outro pegou o mesmo ônibus.”
“Ah, amiga, mas tá de boa. Eles estavam no ônibus, só que nenhum deles desceu no mesmo ponto que eu. Então, tá de boaça. Não tem problema nenhum.”
Essas foram as últimas mensagens enviadas por Vitória.
Câmeras de segurança registraram o momento em que Vitória caminha até o ponto de ônibus e entra no veículo. Essas foram as últimas imagens da vítima com vida. As gravações também mostram um carro perseguindo a adolescente, bem como seus perseguidores. De acordo com testemunhas ouvidas pela polícia, outro veículo aguardava Vitória no local onde ela desceu.
As buscas foram realizadas pela Guarda Civil Municipal de Cajamar (GCM). Com base nos depoimentos, a jovem foi procurada perto de sua casa, em uma área de mata na zona rural. Cães farejadores participaram da operação. A polícia colheu, ao todo, 14 depoimentos, incluindo familiares, amigos, o namorado e o ex-namorado de Vitória.

O corpo foi encontrado na área de mata pelos cães. As autoridades informaram que o cadáver estava nu, apresentava marcas de violência e tinha o cabelo raspado. A família reconheceu a jovem pelas tatuagens. Em seguida, o corpo foi removido pelo Instituto Médico Legal (IML), que constatou que a menina foi assassinada com uma facada no tórax.
Envolvimento do PCC
O delegado Aldo Galiano disse que Vitória teria sido assassinada por “vingança”. Isso porque existem indícios da participação de pessoas ligadas a uma facção criminosa.
O corpo da jovem estava com a cabeça raspada, sem roupa e com a aorta rasgada, na região do pescoço. Segundo o delegado, são práticas de punição feitas por membros do PCC, quando um membro da facção é traído.
Motivação do crime
Até o momento, o principal suspeito do crime é o ex-namorado da vítima, cuja identidade não foi revelada pela polícia. O delegado informou que ele não participou diretamente do assassinato, mas sabia que Vitória seria executada. O suspeito não era bem-vindo na casa da família, pois já havia feito ameaças contra a vida da jovem.
Após o depoimento do ex-namorado, a polícia solicitou à Justiça sua prisão preventiva, bem como um mandado de busca e apreensão em sua residência. No entanto, ambos os pedidos foram negados. O juiz Marcelo Henrique Mariano justificou sua decisão afirmando que, “por ora, não há indícios seguros de autoria delitiva, sendo necessário o aprofundamento das investigações”. O suspeito chegou a se entregar à polícia, mas não foi preso.
Durante uma coletiva de imprensa, o delegado revelou que o ex-namorado estava próximo ao local do crime por volta das 00h35, em um veículo Corolla. Entretanto, em seu depoimento, ele afirmou estar com outra garota, em outro local. O carro foi localizado e enviado para perícia, onde foi encontrado um fio de cabelo. Até o momento, o IML não divulgou o resultado do exame.
“Temos várias informações inconsistentes. A menina desapareceu entre 00h15 e 00h30. Ele afirmou estar com uma jovem de 17 anos, que foi identificada e se apresentou, mas há uma prova contundente de que ele estava próximo ao local do crime por volta das 00h35. Isso contradiz toda a versão apresentada por ele, apenas pela própria cronologia”, explicou o delegado.
Em depoimento, o suspeito declarou que recebeu a mensagem da família de Vitória informando sobre seu desaparecimento por volta das 4h. No entanto, registros da conversa comprovam que a mensagem foi enviada mais cedo, e que ele respondeu com um “ok” por volta das 0h30.
Vizinho foragido
Uma nova peça no quebra-cabeça surgiu: um vizinho que morava próximo à casa da vítima desapareceu no mesmo dia do sumiço de Vitória.
“Essa pessoa sumiu de perto da casa da Vitória. Já localizamos várias pistas e estamos trabalhando nisso. Ele também é investigado. Aliás, é o principal suspeito no momento”, afirmou Aldo Galiano em coletiva.
O delegado revelou ainda que o foragido emprestou o carro para o ex-namorado da jovem, e que o veículo aparece nas imagens da cena do crime.
Até agora, 14 pessoas foram ouvidas no caso, enquanto sete seguem sob investigação. As autoridades continuam reunindo provas para avançar nas investigações.