
Sina do Amazonas: bancada no Senado é marcada pela presença de suplentes sem votos

A representação do Amazonas no Senado Federal nos últimos 50 anos tem sido marcada pela presença de suplentes sem votos assumindo a vaga de titulares e, se confirmado o favoritismo do senador Omar Aziz (PSD) na eleição para o governo do Estado, em 2026, novamente este fenômeno vai se repetir, dessa vez com uma genuína política amazonense do interior.
A primeira vez que um suplente, sem votos, assumiu uma vaga de senador pelo Amazonas aconteceu em 1977, quando o empresário João Braga Júnior assumiu o mandato no lugar do senador eleito José Esteves.
Esteves deixou o mandato para ser secretário de governo na gestão do governador Henoch Reis. Braga, Esteves e Reis eram todos da Arena, o partido que dava sustentação a ditadura militar no Amazonas.
Tio dos futuros senadores Eduardo (MDB) e Sandra Braga (MDB), João Braga exerceu o mandato entre 1977 e 1979, quando não disputou a reeleição.
Para a vaga dele foi eleito o então vice-governador do Estado, João Bosco Ramos de Lima (Arena), que assumiu o posto em março de 1979 e morreu dois meses depois abrindo lugar para a primeira mulher a assumir um mandato de senadora no Brasil, a paulista Eunice Michiles (Arena).
Agora o caso mais curioso de suplente assumindo a vaga de titular sem nenhum voto ocorreu com o senador Fábio Lucena (MDB).
Eleito em 1982 para um mandato que só se encerraria em 1990, Fábio Lucena surpreendeu a todos quando abriu mão do mandato em 1986 para disputar novamente uma vaga no Senado Federal.
No lugar dele assumiu o mandato, sem nenhum voto, o senador Leopoldo Peres Sobrinho (MDB), que cumpriu os últimos quatro anos do mandato. Peres não morava no Amazonas, pois era servidor público federal em Brasília.
Eleito em 1986, Fábio Lucena assumiu este segundo mandato em março de 1987, mas morreu em 14 de junho do mesmo ano, deixando a vaga e quase oito anos de mandato em Brasília para o escritor Áureo Mello, que vivia no Rio de Janeiro.
O fênomeno de suplentes sem voto voltou a dar as caras na bancada do Amazonas nos anos 1990. Eleito senador naquele ano, Amazonino Mendes (PDC), deixou o cargo em 1993 para assumir a Prefeitura de Manaus e deixou a vaga para o empresário paulista Gilberto Miranda Batista (MDB).
No final dos anos 90 houve uma rara estabilidade na bancada do Amazonas, com os senadores eleitos efetivamente exercendo o mandato. Isso ocorreu com a trinca Jefferson Peres (PDT), Bernardo Cabral (PFL) e Gilberto Mestrinho (MDB) e a trinca seguinte, com Peres, Mestrinho e Arthur Neto (PSDB).
A volta do fenômeno aconteceu em 2007, quando o ex-senador João Pedro Gonçalves (PT) assumiu, em abril de 2007, a vaga no Senado em lugar de Alfredo Nascimento, que se licenciou para assumir o Ministério dos Transportes no segundo governo Lula (PT). Nessa passagem João Pedro ficou no posto até 2010.
Em 2008, com a morte, em maio, de Jefferson Péres, outro suplente sem voto assumiu uma cadeira na bancada do Amazonas. Tratava-se do economista Jefferson Praia (PDT), que era vereador em Manaus.
Na legislatura seguinte, Alfredo voltaria a ser convocado para o Ministério dos Transportes no governo Dilma Rousseff (PT) e João Pedro Gonçalves voltou a bater ponto no Senado Federal entre janeiro de 2011 e julho de 2011.
Também nessa Legislatura, a empresária Sandra Braga (MDB) assumiu o mandato do marido, o senador Eduardo, que se licenciou para assumir, entre janeiro 2015 e maio de 2016, o posto de ministro das Minas e Energia no segundo governo de Dilma Rousseff (PT).
Saiba mais:
Produção Industrial do Amazonas em junho foi a segunda melhor do ano, diz pesquisa IBGE
Comércio do Amazonas faturou R$ 79,1 bilhões , diz pesquisa IBGE
Estabilidade no Senado pode ser quebrada novamente
De 2018 a 2026 temos de volta uma estabilidade na bancada, com senadores eleitos exercendo plenamente o mandato. A trinca Omar Aziz (PSD), Eduardo Braga (MDB) e Plínio Valério (PSDB), poderá ser quebrada no ano que vem.
Braga e Plínio são candidatos a reeleição, mas Omar Aziz que em 2026 estará no meio do mandato é pré-candidato ao Governo do Estado e atualmente é apontado como franco favorito em todas as pesquisas de opinião.
Se Omar vencer a eleição, o Amazonas terá novamente um suplente sem voto exercendo o mandato, no caso a pedagoga itacoatiarense Cheila Moreira (PT), que poderá ser a primeira senadora nascida no interior amazonense da história, uma vez que Eunice Michiles é paulista, Vanessa Grazziottin (2011-2018) é catarinense e Sandra Braga é de Manaus.
Cheila Moreira é professora e servidora pública em Itacoatiara, onde nasceu em 1976. Na política começou no movimento sindical, onde se aproximou do deputado estadual e presidente do PT do Amazonas, Sinésio Campos.
Inicialmente trabalhou como assessora de Sinésio, mas entre 2012 e 2024 cumpriu três mandatos de vereadora na Câmara Municipal de Itacoatiara, onde chegou a ser vice-presidente da Casa.