O ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, negou as acusações de importunação sexual feitas pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e afirmou que ela “se perdeu no personagem” ao denunciá-lo. Em entrevista ao UOL, publicada nessa segunda-feira (24/02), Almeida disse que a ministra “caiu em uma armadilha política” e acusou Anielle de espalhar “fofocas e intrigas” para prejudicá-lo.
Durante a entrevista, Silvio Almeida afirmou que Anielle Franco não compreendeu a dinâmica política ao fazer a acusação.
“A ministra Anielle Franco caiu numa armadilha pela falta de compreensão de como funciona a política. A mesma armadilha que caí também […]. Eu acho que ela se perdeu no personagem. Quando você se torna ministro de Estado, a intriga se torna uma arma política”, declarou Almeida.
O ex-ministro também criticou o que chamou de “tentativa de minar sua credibilidade”.
“O objetivo talvez fosse minar minha credibilidade, tirar meu espaço em certos círculos da elite carioca, da academia, com pessoas ligadas ao sistema de justiça”, afirmou.
Silvio negou o relato de Anielle sobre um episódio ocorrido durante uma reunião ministerial, quando ela disse que ele teria tocado em sua perna. O ex-ministro afirmou que o encontro foi “tenso” e tinha como pauta o racismo em aeroportos. Segundo ele, Anielle segurou seu braço e reclamou: “Em todo lugar você quer dar aula, aqui não é lugar de dar aula”. Ele classificou a atitude como “extremamente deselegante”.
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Resposta de Anielle Franco
Em resposta às declarações de Almeida, Anielle Franco usou as redes sociais para repudiar as falas do ex-ministro. No X (antigo Twitter), ela criticou o timing da entrevista, que aconteceu na véspera do depoimento de Silvio Almeida à Polícia Federal (PF).
“A tentativa de descredibilizar vítimas de assédio sexual, minimizar suas dores e transformar relatos graves em ‘fofocas’ e ‘brigas políticas’ é inaceitável”, afirmou Anielle. A ministra reforçou que “importunação sexual não é questão política” e destacou a importância das investigações da PF sobre o caso.
“Reitero minha confiança na seriedade das investigações conduzidas pela Polícia Federal e reforço meu compromisso com a defesa das vítimas e o combate à violência de gênero e raça”, completou.
Leia a nota na íntegra:
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Entenda as acusações contra Silvio Almeida
As primeiras denúncias contra Silvio Almeida surgiram em setembro de 2024, intermediadas pela ONG Me Too Brasil. Anielle Franco está entre as denunciantes e relatou que os episódios ocorreram desde a transição do governo até os meses seguintes, quando ambos ocupavam cargos ministeriais.
“Foram atitudes desrespeitosas. Não posso entrar em detalhes por conta do depoimento à Polícia Federal, mas aconteceram diversas falas e atitudes que repudio”, disse Anielle em entrevista ao jornal O Globo.
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Segundo ela, levou tempo para processar o ocorrido e tomar a decisão de denunciá-lo.
“Um número grande de mulheres me procurou, e uma delas falou: ‘Vivi isso. Estou calada há 40 anos e tomei coragem para falar’. Foi o que me fez pensar que esse silêncio tinha que acabar em algum momento”, afirmou.
Após as denúncias, Silvio Almeida foi exonerado do Ministério dos Direitos Humanos, que passou a ser comandado pela deputada estadual Macaé Evaristo. A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o caso, e na semana passada o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, prorrogou as investigações por mais 60 dias.