Em entrevista exclusiva ao programa Tribuna Livre, da Rede Onda Digital, nesta segunda-feira (26/5), o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) falou abertamente sobre o processo que pode culminar na sua cassação no plenário da Câmara dos Deputados. Além disso, o parlamentar detalhou sua recente greve de fome, realizada em protesto contra o que considera ser uma perseguição política articulada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Durante a entrevista, Glauber Braga questionou o poder concentrado nas mãos de Lira e afirmou que até mesmo aliados do presidente da Câmara estão desconfortáveis com a possibilidade de sua cassação:
“Mas pode Arthur Lira ter tanto poder assim para decidir quem fica e quem sai da Câmara Federal? Aliados do próprio Lira têm ido até ele e falado: ‘pô, Lira, tá demais. Você querer a cassação do Glauber pode até cassá-lo, mas isso está gerando um preço político que não era esperado previamente’.”

Segundo Glauber, há uma crescente resistência interna, inclusive entre parlamentares próximos a Lira, contra a cassação. Para ele, essa tensão poderá ser um fator determinante para reverter o processo:
“Eu acho que, com a ampliação dessa tensão por parte dos próprios aliados, a gente tem condição de reverter esse jogo, porque há um sentimento tanto social quanto interno na Câmara contra cassação.”
O parlamentar também comentou que muitos colegas reconhecem que, embora ele possa ser alvo de alguma punição, como uma advertência ou suspensão, a cassação seria uma medida desproporcional.
Veja:
Caravana Nacional Glauber Fica
Glauber Braga visita Manaus nesta segunda em meio a uma caravana nacional que defende a manutenção do seu mandato. A ‘Caravana Nacional Glauber Fica’ deverá se reunir no Sindicato dos Petroleiro, no Centro de Manaus.
Manaus é a quarta parada do movimento no Norte do Brasil, tendo passado por Boa Vista (RR), Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC) entre 23 e 25 de maio.

Glauber dormiu no chão do plenário em protesto
O processo contra Glauber Braga avançou após o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados aprovar, por 13 votos a 5, o parecer do relator Paulo Magalhães (PSD-BA), recomendando a cassação do mandato do deputado do PSOL. Em um gesto simbólico e de resistência, Braga chegou a dormir no chão do plenário do Conselho de Ética, protestando contra o andamento do processo.
Agora, o parecer aprovado segue para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde poderá ser analisado e, posteriormente, levado à votação em plenário. Para que a cassação de Glauber Braga se concretize, será necessário o apoio de pelo menos 257 deputados.

O episódio que deu origem ao processo ocorreu em abril de 2024, quando Glauber Braga se envolveu em uma confusão com o youtuber Gabriel Costenaro, integrante do Movimento Brasil Livre (MBL). Segundo Costenaro, ele foi agredido e expulso aos pontapés das dependências da Câmara dos Deputados, onde almoçava tranquilamente. Braga, por sua vez, apresentou uma versão diferente dos fatos, alegando que foi provocado e que se sentiu intimidado pelo ativista.
O PSOL, legenda de Glauber, contestou a abertura do processo, alegando que a motivação seria política. O deputado acredita que o relator, Paulo Magalhães, atuou sob a influência direta de Arthur Lira, a quem acusa de perseguição. Glauber lembra que, em 2024, ele e seu partido foram responsáveis por uma ação judicial que levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a travar a destinação de emendas parlamentares, atingindo diretamente os interesses de Lira.
Na ocasião, Glauber acusou o presidente da Câmara de “sequestrar” o orçamento público ao favorecer aliados políticos através da liberação de recursos via as chamadas “emendas do relator”, também conhecidas como “orçamento secreto”.
Apesar do avanço do processo no Conselho de Ética, a tramitação não implica em cassação imediata. Glauber Braga ainda pode apresentar recursos à CCJ e, posteriormente, o parecer será submetido ao plenário da Câmara, onde precisará ser aprovado por maioria absoluta.
Greve de fome como forma de protesto
Durante a entrevista ao Tribuna Livre, o deputado também falou sobre sua greve de fome, que teve início no dia 9 de abril e foi encerrada em 17 de abril. Glauber revelou que se preparou meticulosamente para a ação extrema, buscando orientações de pessoas que já haviam passado pela experiência:
“Eu consultei quem já tinha feito greve de fome […] Cumpri à risca as orientações que recebi para tal.”
Veja:
Durante os nove dias de greve, Glauber Braga permaneceu nas dependências da Câmara, dormindo no local e se alimentando apenas com água, soro e isotônicos. O parlamentar justificou o protesto como uma forma de denunciar a perseguição política que, segundo ele, motiva o processo de cassação.

O fim da greve de fome foi resultado de um acordo político com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Pelo entendimento firmado, independentemente do parecer da CCJ, o processo não será levado ao plenário antes de, pelo menos, 60 dias. O acordo também foi discutido com a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), esposa de Glauber, e com o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).