O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) afirmou, nesta terça-feira (4/2), que o cenário de inflação segue “adverso”, principalmente a curto prazo. Com isso, a ata do colegiado destacou que os preços de alimentos aumentaram de forma significativa em função, entre outros fatores, da estiagem e da elevação de preços das carnes, afetada pelo ciclo do boi.
Para o colegiado do BC, o aumento dos preços dos alimentos “tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”.
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Na semana passada, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic de 12,25% ao ano para 13,25%. A Selic é o principal instrumento de controle da inflação e para manter a estabilidade da economia.
Em 2024, a Selic ficou a 4,83%, acima do teto da meta.
O mercado financeiro estima que a Selic ficará em 15% ao ano até o fim de 2025, segundo o relatório Focus. Para os analistas, a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deverá estourar o teto da meta novamente este ano, com expectativa de 5,51%.
A diretoria da autoridade monetária entende que a condução da política econômica dos Estados Unidos sob o novo governo Donald Trump ainda preocupa e torna o ambiente externo “desafiador”. Entre os pontos citados estão:
- ritmos de desaceleração e de desinflação do país;
- postura do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
Além de justificar a alta da Selic feita em janeiro, o Copom antecipou a contratação de mais uma elevação da taxa de juros, de pelo menos 1 ponto percentual, na próxima reunião, marcada para os dias 18 e 19 de março.
Em nota, o BC afirmou:
“Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião”.
Assim, os juros podem chegar a 14,25% ao ano ainda no primeiro trimestre — mesmo patamar de julho de 2015, época da crise no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Meta da inflação
O BC também admitiu a possibilidade de estouro da meta em 2025, no caso de as projeções do cenário de referência se concretizarem. Nesse cenário, “a inflação acumulada em 12 meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos“, ressalta o órgão.
Em 2025, a meta de inflação é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual, sendo 1,5% (piso) e 4,5% (teto). Ela será considerada cumprida se oscilar entre esse intervalo de tolerância. Nesse novo modelo, se a inflação acumulada em 12 meses ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
Caso isso aconteça, o BC precisa divulgar uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando as razões para o estouro. Isso porque a autoridade monetária é que faz o controle da inflação, por meio da Selic, definida pelo Copom a cada 45 dias.
*Com informações de Metrópoles