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Combate à gordofobia: luta pela aceitação dos corpos gordos

A data, que inicialmente circulava de forma difusa e até com conotação de deboche, passou a carregar um peso simbólico importante na defesa dos direitos das pessoas gordas
Combate à gordofobia: luta pela aceitação dos corpos gordos

(Foto: reprodução)

O dia 10 de setembro é reconhecido como o Dia de Luta Contra a Gordofobia. A data representa um marco importante para o ativismo em defesa dos corpos gordos, iniciado há mais de 50 anos nos Estados Unidos com a criação da NAAFA (Associação Nacional para o Avanço da Aceitação das Pessoas Gordas).

A origem da data

A escolha remonta ao Fat Liberation Manifesto, publicado em 1973 pelas ativistas Judy Freespirit e Aldebran. O documento, que completou 50 anos em 2023, é considerado um marco do ativismo gordo por exigir respeito, dignidade e igualdade de oportunidades para pessoas gordas em diferentes áreas da sociedade.

No manifesto, as autoras denunciam a indústria da magreza, a objetificação dos corpos gordos e a discriminação estrutural em setores como saúde, educação, emprego e serviços públicos. O texto também alerta para a gordofobia médica, que muitas vezes agrava o quadro de saúde dos pacientes ao reduzir todo cuidado à perda de peso, e condena a patologização dos corpos gordos.

(Foto: reprodução)

Segundo dados do Ministério da Saúde, 56% da população brasileira é composta por pessoas gordas. Mesmo representando a maioria, elas ainda enfrentam barreiras diárias de acesso a direitos básicos e são alvo frequente de preconceito.

O Dia de Luta Contra a Gordofobia busca, portanto, não apenas resgatar a importância histórica do manifesto de 1973, mas também provocar reflexão social, promover a conscientização e reivindicar políticas públicas que assegurem dignidade, inclusão e respeito.

A obesidade exaltada nas redes sociais

Nos últimos anos a obesidade vem sendo romantizada e defendida nas redes sociais. O tema sob essa perspectiva sempre foi defendido por influenciadoras como Alexandra Gurgel, Bielo Pereira e Thais Carla, essa última, recentemente, passou por uma cirurgia bariátrica para perda de peso. Embora nenhuma delas defendessem a obesidade, as três encaram o caso como uma questão de estética e não de saúde, e promovem conteúdos em defesa da pessoa se sentir bem sendo obesa.

(Foto: reprodução/Instagram – @thaiscarla)

Por melhor que seja a intensão, a obesidade é sim uma doença crônica, conforme explica a nutricionista funcional Sálvia Belota, que relata a obesidade uma doença classificada como CID 10 (E66.0), que consiste no acumulo de gordura corporal em quantidade que prejudica o corpo. E ainda que a obesidade seja “romantizada” e “incentivada”, especialistas apontam que não existe gordura saudável.

“Esse acúmulo de gordura, ele nunca vai ser saudável. Desencadeia toda uma cascata de inflamação, de doenças cardiovasculares, diabetes e por aí vai apneia, dificuldade para respirar, muito cansaço. E aí, quando a gente pensa sobre isso, logo a gente faz essa comparação de que o acúmulo de gordura, ela não combina com ser saudável. Agora, dependendo de quem fez essa leitura desse exame laboratorial, vai-se ter essa interpretação que tá tudo normal, mas é impossível tá normal”, explica a doutora Belota.


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A especialista em Nutrição Clínica, Priscila Silva de Assunção, concorda que a obesidade não deve ser exaltada como algo positivo, e que o acumulo de gordura sempre será algo nocivo, mesmo que uma pessoa com excesso de peso, naquele momento, não apresente nenhuma comorbidade.

“Obesidade é uma doença. Se é doença, não deve ser celebrada. Existem obesos que tem uma “qualidade de vida”, mas a gordura sempre vai causar alguma coisa, é um risco. Além da obesidade ser uma doença, ela acarreta outras doenças”, explica a especialista e também afirma que não há um nível de obesidade considerada “saudável”.

“Não há um consenso científico de que exista um gordo saudável, algumas pesquisas defendem que sim, é possível ser metabolicamente saudável com excesso de peso, enquanto outras consideram o obeso saudável inexistente, eles acreditam que a gordura sempre gera riscos à saúde, ainda que silenciosos”, declarou Priscila.

Conscientização e cuidados

O manifesto do dia do obeso, embora tenha gerado interpretações diversas e ganhado a romantização nas redes sociais, o dia da luta contra a gordofobia não é apenas um pedido de respeito aos obesos. Ser obeso não é um estilo ou escolha de vida, mas sim uma doença, e como tal, deve ser levada a sério e tratado com responsabilidade, conforme reflete Sálvia.

“A gordofobia machuca, silencia, exclui. Faz com que pessoas evitem consultas, tenham medo de serem julgadas e, muitas vezes, desistam de cuidar de si mesmas. Isso não é saúde, isso é violência”, conscientiza Silvia Belota. “A luta contra a gordofobia é também uma luta pela saúde coletiva. Porque saúde não é exclusividade de quem veste tamanho P. Saúde é direito de todos os corpos”, conclui.

A especialista em nutrição, Priscila Silva de Assunção, deixa o melhor caminho para manter uma vida saudável. Mesmo não sendo fácil.

“Para ter uma vida saudável, sendo obeso ou não, é preciso priorizar a alimentação equilibrada. É a base de tudo, incluindo uma boa ingestão de água [de 35 ml de água por quilo de peso corporal], raridade hoje em dia. A prática regular de exercícios físicos, não precisa ser academia, mas um esporte que você gosta, garante um condicionamento físico, um sono de qualidade e o cuidado com a saúde mental”, declara.