O retorno de Odete Roitman (interpretada por Debora Bloch) à trama de “Vale Tudo” causou comoção e conflito, especialmente na vida da filha, Heleninha (Paolla Oliveira). No capítulo exibido na segunda-feira (28/04), a personagem, uma artista plástica emocionalmente fragilizada, teve sua primeira recaída ao álcool após anos de sobriedade.
Apesar de ser uma ficção, a situação retratada na novela reflete fielmente a realidade de muitos brasileiros que enfrentam os desafios de conviver com dependentes químicos dentro da família.

O alcoolismo como doença
A crise vivida por Heleninha chama a atenção para uma doença crônica e progressiva que atinge milhões de pessoas: o alcoolismo. Segundo o Dr. Arthur Guerra, coordenador do Núcleo de Psiquiatria do Hospital Sírio-Libanês, o alcoolismo não tem uma causa única.
“Os principais fatores associados ao alcoolismo são sociais, culturais, psicológicos e genéticos. Os fatores sociais estão relacionados ao fato de vivermos em um mundo muito alcoólico, no qual muitas pessoas consomem bebidas alcoólicas como forma de relaxar ou se divertir”, explica o especialista em entrevista à CNN.
Já os fatores genéticos, de acordo com o especialista, envolvem famílias que possuem mais enzimas capazes de metabolizar o álcool de forma mais rápida, o que reduz os efeitos da ressaca.
Do ponto de vista psicológico, o álcool muitas vezes é usado como ferramenta de escape.
“Entre os fatores psicológicos, é comum que muitas pessoas utilizem o álcool como uma forma de lidar com quadros de depressão ou ansiedade”, acrescenta Guerra.

Sinais de alerta para o consumo abusivo de álcool
A novela traz à tona uma questão central: como identificar quando o uso de álcool deixa de ser recreativo e passa a ser um problema? O psiquiatra Arthur Guerra lista cinco sinais de alerta para o consumo abusivo de álcool:
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Danos causados a si mesmo ou a outros após o consumo;
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Perda de controle (promete beber pouco, mas consome muito mais);
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Queixas frequentes de familiares e amigos sobre o comportamento ao beber;
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Dificuldade em permanecer períodos de abstinência;
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Tolerância aumentada ao álcool, necessitando de quantidades maiores para sentir os efeitos.
Além desses, os sintomas de abstinência também funcionam como indicadores preocupantes. Entre os principais estão tremores, náuseas, suor excessivo, ansiedade, irritabilidade e até alucinações nos casos mais graves.

Não há nível seguro para o consumo de álcool
A discussão em torno da recaída de Heleninha em “Vale Tudo” também levanta uma pergunta importante: existe uma quantidade segura de álcool que pode ser consumida? A resposta, segundo Arthur Guerra, é não.
“Isso porque, ao oferecer álcool a alguém, não sabemos se essa pessoa possui alguma vulnerabilidade, fragilidade ou dificuldade para metabolizar adequadamente a substância”, alerta o psiquiatra.
Estudos recentes da Universidade de Oxford confirmam esse posicionamento, mostrando que qualquer quantidade de álcool pode causar danos ao cérebro, independentemente do tipo de bebida — seja vinho, cerveja ou destilados.
Essa constatação vai de encontro a ideias comuns que circulam socialmente, como a de que beber “socialmente” ou em “pequenas doses” não oferece riscos. Para Guerra, essa crença é perigosa porque minimiza os efeitos nocivos do álcool, principalmente em indivíduos com predisposição genética ou fragilidade emocional.
*Com informações de CNN