A presidente do Palmeiras Leila Pereira sugeriu que os clubes brasileiros troquem a filiação com a Conmebol pela Concacaf, após a entidade do futebol Sul-Americano aplicar a punição ínfima ao Cerro Porteño após o caso de racismo contra Luighi, na última semana.
“Já que a Conmebol não consegue coibir esse tipo de crime, não consegue tratar os brasileiros com o tamanho que os clubes representam à Conmebol, por que não pensar em nos filiarmos à Concacaf? Só assim vão respeitar o futebol brasileiro”, disse a mandatária.
Além disso, o Palmeiras contou com as adesões da Libra e da Liga Forte União (LFU) na luta contra o racismo no futebol sul-americano e enviou, nesta segunda-feira (10/3), uma carta à Fifa. A intenção é solicitar a intervenção da entidade máxima do futebol no combate aos frequentes crimes de discriminação racial nas competições da América do Sul.
De acordo com Leila, uma reunião com outros clubes vai acontecer na CBF nesta quarta-feira (12): “Tenho uma reunião na CBF, vou conversar com os clubes brasileiros que vão estar lá e com o Ednaldo. É uma semente a se plantar. Se não somos respeitados aqui na América do Sul, por que não ir à Concacaf? Com certeza, financeiramente seria melhor para os clubes brasileiros”.
O que é preciso?
Para um clube se filiar a uma confederação continental fora de sua localização geográfica é preciso, primeiro, que sua federação nacional dê o primeiro passo. Ou seja, a CBF teria que se desfiliar da Conembol e pedir para se tornar membro da Concacaf, em processo que depende também de aprovação da Fifa. Isso implicaria, contudo, em ter a seleção brasileira disputando as Eliminatórias da Copa do Mundo da Concacaf, de nível muito inferior às Eliminatórias da América do Sul.

“A FIFA pode, em circunstâncias excepcionais, autorizar uma confederação a conceder filiação a uma associação que pertença geograficamente a outro continente e não seja afiliada à confederação naquele continente. A opinião da confederação geograficamente envolvida deve ser obtida”, diz o estatuto da entidade máxima do futebol.
Cada caso é avaliado individualmente, junto de suas particularidades, como ocorreu com a Austrália e Israel, por exemplo. As duas nações competem fora de seus continentes, tanto no âmbito de seleções quanto no de clubes, por motivos diferentes.
Entenda o caso
O caso aconteceu na vitória do Palmeiras sobre o Cerro Porteño, por 3 a 0, pela Libertadores Sub-20, aos 36 minutos da segunda etapa.
Na saída de campo após ser substituído, Figueiredo foi alvo de um torcedor que imitou um macaco para o jogador brasileiro. Luighi, que também saiu, foi igualmente chamado de macaco pelos torcedores presentes.
O camisa 9 então alertou a arbitragem da partida sobre o ocorrido, mas o árbitro Augusto Menendez ignorou e deixou o jogo seguir normalmente.
Leia mais:
Deputado Sidney Leite cobra CBF por omissão em caso de racismo contra jogador do Palmeiras
Exemplos:
Os australianos trocaram a Confederação de Futebol da Oceania (OFC) pela Confederação Asiática de Futebol (AFC) por questões de competitividade, já que a seleção do país sempre se sobressaia nas Eliminatórias da Copa do Mundo, a exemplo da goleada por 31 a 0 sobre a Samoa Americana em 2001. A troca de confederação se deu em 2005.
Outro caso é o de Israel, que disputa as Eliminatórias Europeias e tem seus clubes na Champions League e Liga Europa, por causa dos conflitos que nutre no Oriente Médio, especialmente com a Palestina.
Qual os passos para a CBF trocar de associação?
Para clubes brasileiros se associarem a Concacaf, a CBF teria, primeiro, de pedir para deixar a Conmebol. De acordo com o estatuto da entidade sul-americana, a desfiliação voluntária é permitida desde que a federação solicitante comunique a decisão seis meses antes do fim do calendário anual de competições. Também se exige o cumprimento de “obrigações pendentes com a CONMEBOL ou outras associações membros” e a” ratificação da decisão perante Congresso”
O estatuto da Concacaf, por sua vez, permite a filiação de federações fora de seu alcance geográfico, mas deixa claro que a Fifa é soberana na tomada de decisão. “Uma associação que esteja fora da região geográfica da Concacaf pode ser admitida como membro desde que não seja membro de nenhuma outra confederação. No entanto, tal admissão de membro à Concacaf deve estar de acordo com os estatutos da FIFA,” diz o texto.
Para solicitar a filiação junto à Concacaf, é preciso fazer uma solicitação por escrito à Secretaria Geral da entidade, acompanha de uma série de documentos. Então, o Conselho da Concacaf pode emitir uma opinião ao Congresso, sobre a admissão ou não do pedido, antes da resolução final.

Brasileiros poderiam disputar a Concachampions sem trocas de federações?
Leila Pereira falou em filiação à Concacaf, mas, se a ideia for reduzida a não disputar a Libertadores e jogar a Copa dos Campeões da Concacaf, tudo depende de um convite. Foi assim que times mexicanos fizeram o caminho inverso e de 1998 a 2016 disputaram a Libertadores. A Federação Mexicana de Futebol (FMF) nunca se filiou a Conmebol e a seleção do México continuou disputando as eliminatórias conjuntas de Caribe e Américas do Norte e Central.
Mesmo o convite, entretanto, depende de aprovação da Fifa. Em movimento recente, no final de 2023, a FMF solicitou à Fifa que seus times voltassem a disputar a Liberadores, mas o pedido foi recusado.
“Sobre a Libertadores, temos um pedido do México para disputá-la. Falamos com a FIFA e devolvemos um documento à FMF que foi negado. Não foi autorizado porque temos a competição oficial, a nossa, que é o caminho para o Mundial de Clubes”, disse Victor Montagliani, presidente da Concacaf, na ocasião.