O valor do dólar comercial no mercado brasileiro não para de bater recordes: Na segunda (16/12), ele já fechou a R$ 6,09, o maior valor desde a criação do Plano Real. Já nesta terça (17), a moeda norte-americana superou R$ 6,16 na abertura dos negócios e à tarde, ampliou a alta para R$ 6,20.
Caso a valorização seja mantida até o encerramento do pregão, a divisa renovará o maior valor desde o Plano Real.
A divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central contribuiu para a alta: Após elevar a Selic, taxa básica de juros, em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano, na última semana, o Copom volta a indicar que em suas próximas duas reuniões, que acontecerão nos primeiros meses de 2025, outras altas de mesma magnitude devem acontecer, o que levaria a taxa Selic a um patamar de 14,25% ao ano.
Além disso, a alta do dólar se deveria a reação de agentes econômicos ao pacote de corte de gastos proposto pelo governo nas últimas semanas: o pacote prevê uma economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos.
Tanto na segunda quanto na terça, o Banco Central promoveu leilões de dólares, para tentar manter a cotação sob controle: No certame de hoje, realizado entre 9h36 e 9h41, o BC vendeu US$ 1,272 bilhão a uma taxa de corte de R$ 6,1005. Foram aceitas sete propostas na negociação, segundo o Depin (Departamento das Reservas Internacionais).
No entanto, economistas têm apontado que essas intervenções do BC não serão suficientes para segurar a alta.
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Sérgio Vale, economista da MB Associados, disse que medidas para estancar o crescimento da dívida em relação ao PIB são subestimadas pelo governo:
“Há o risco de vermos aprovação dos projetos no Congresso, sobre o Bolsa Família e o BPC, terem ajustes negativos, no sentido de haver desidratação de regras colocadas pelo próprio governo, que já eram fracas. O mercado está estressado. E fica essa dúvida pelo que de fato será entregue”.
Recentes declarações do presidente Lula também causaram mal-estar. No Fantástico, domingo (15), antes da divulgação do Copom, Lula disse:
“A única coisa errada nesse país é a taxa de juros estar acima de 12%. Essa é a coisa errada, não há nenhuma explicação. A inflação está quatro e pouco, é uma inflação controlada. A irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia, não é do governo federal”.
Vale retrucou:
“Falta o entendimento geral do governo de qual é a situação fiscal que estamos vivenciando. O governo pensa que está fazendo o correto e o mercado não está entendendo. É um erro grande”.
Para os economistas, a alta da moeda americana é reflexo da falta de confiança na capacidade de o governo equilibrar as contas públicas. Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências Consultoria, declarou:
“Pode-se dizer que se o BC não atuasse a alta do dólar poderia ser até maior. Mas o fato é que o BC não tem capacidade de mudar drasticamente essa dinâmica porque o problema não é escassez de dólar, mas, uma crise de confiança”.
*Com informações de UOL e O Globo