Em quase quatro anos de mandato da atual legislatura da Câmara Municipal de Manaus (CMM), 32 dos 41 vereadores utilizaram mais de 90% dos recursos financeiros que cada um tem direito da Cota para o Exercício de Atividade Parlamentar (Ceap), mais conhecido como “cotão”, recebidos entre fevereiro de 2021 e julho de 2024. Segundo o levantamento da Rede Onda Digital, a partir das informações da seção de Transparência do site da Casa Legislativa, o valor total acumulado de uso do benefício por todos os parlamentares neste período foi de quase R$ 45 milhões [R$ 44.786.234,91].
Em consulta ao famoso programa de inteligência artificial (IA) ChatGPT, da empresa norte-americana OpenAI, é possível ter um parâmetro do que poderia ser investido pelo poder público com este montante gasto de Ceap. De acordo com o chatbot, se poderia construir e equipar de 10 a 15 escolas, dependendo do tamanho e infraestrutura necessária; erguer até 5 Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou pequenas clínicas em áreas carentes; e financiar projetos habitacionais para a construção entre 500 e 800 casas populares.
Ainda conforme a apuração da Rede Onda Digital, em 42 meses [3 anos e meio] de cotão, a maioria dos vereadores ganhou no acumulado R$ 1.241.661,35, já que teve substituição nesta legislatura da CMM de parlamentares.
No ranking dos mais “gastadores” da Ceap, o vereador Raulzinho (MDB) lidera. Do mais de R$ 1,241 milhão, ele usufruiu quase 100% (99,99%). Sobrou apenas R$ 68,50. O parlamentar não economizou, praticamente, nada de um mês para outro do valor do cotão, que é acumulativo e, na maioria das vezes, serve para pagar aluguéis de veículos, combustíveis, telefonia móvel e serviços de assessoria de imprensa.
Ainda vale lembrar que desde janeiro de 2022 a cota mensal saltou de R$ 18 mil para R$ 33.085,55 após a maioria dos vereadores da CMM aprovar no ano anterior, em dezembro de 2021, um reajuste de 83% do benefício. Na época, o aumento da verba da Ceap ocorreu no primeiro ano de mandato dos parlamentares e ainda na gestão do vereador David Reis (Avante) na Casa Legislativa.
E após Raulzinho, os demais vereadores que mais esbanjam recursos do cotão não ficam tão atrás do colega de CMM em valores de despesas. Se contar apenas os cinco que mais utilizaram a Ceap, em 2º lugar está Sassá da Construção Civil (PT), com R$ 1.240.932,18 gastos até o momento, seguido por Lissandro Breval (Progressistas), com R$ 1.240.837,83, Glória Carratte (PSB), com R$ 1.239.483,04, e Professor Samuel (PSD), com R$ 1.239.344,77.
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Já no caminho inverso, se relacionar os cinco vereadores que menos gastaram o dinheiro do cotão no exercício do atual mandato, o vereador Rodrigo Guedes (Progressistas) é disparado o mais econômico. Entre fevereiro de 2021 e julho deste ano, ele aproveitou R$ 538.396,26 da Ceap. Ainda faltaria gastar, se Guedes quisesse, R$ 703.265,09 que se juntarão à cota mensal de mais de R$ 33 mil, de agosto a dezembro.
Na vice-liderança dos vereadores mais controlados em gastar a Ceap, aparece Ivo Neto (PMB), com R$ 876.585,85 usufruídos. Os outros parlamentares econômicos que completam o Top 5 são: Capitão Carpê (PL), com R$ 876.607,37 em despesas do cotão, Marcelo Serafim (PSB), com R$ 994.159,58, e Rosinaldo Bual (Agir36), com R$ 1.038.297,39.
No caso dos vereadores Alonso Oliveira (Agir36), Roberto Sabino (Republicanos) e Isaac Tayah (MDB), que no decorrer da legislatura na CMM herdaram respectivamente as vagas abertas por Wanderley Monteiro (Avante), Amom Mandel (Cidadania) e Antônio Peixoto (PSD), estão na ala dos que fazem questão de usar quase todo o cotão.
Por terem assumido tardiamente os mandatos, nenhum deles recebeu acima da casa numérica de sete dígitos, de R$ 1,241 milhão como os outros parlamentares em valores acumulados, mas o trio gastou entre 94% e 99% os recursos da Ceap que tiveram à disposição.