Compreender o risco para a saúde pública dos parasitas de filárias zoonóticas que atingem o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) e eleger as opções de tratamento que possam reduzir o risco desses micro-organismos para as populações humana e deste primata, são objetivos de pesquisa apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Amparado via Programa Universal Amazônas, o estudo intitulado “Detecção e caracterização de filárias zoonóticas em sauim de coleira (Saguinus bicolor), e avaliação do risco para saúde pública” detectou a bactéria Wolbachia e outros parasitas filariais.
A presença das filárias é mais uma ameaça à população de sauins, que já é uma espécie afetada pela perda do seu habitat natural, em virtude do desmatamento das áreas verdes de Manaus.
A coordenadora do estudo e doutora em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses, Alessandra Ferreira Dales Nava, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), afirmou que as filárias que foram encontradas nos animais analisados já foram encontradas em outros primatas.
“Agora nossa próxima questão é entender se há um risco zoonótico e o quanto a presença dessas filárias afetam a saúde dos sauins. O nosso grupo identificou um vetor antropofílico (que suga sangue de pessoas) com uma das espécies de filárias, que achamos em sauim (Mansonella marie). Isso pode indicar uma possibilidade de transmissão para as pessoas”, alertou a epidemiologista.
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Os sauins-de-coleira são primatas encontrados somente em Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara, no interior do Amazonas, e que, muitas vezes, morrem atropelados ou eletrocutados. Depois, esses animais são levados ao “Projeto Sauim-de-coleira”, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde são realizadas necropsias pela equipe, a fim de procurar o parasita adulto, que geralmente é encontrado na cavidade abdominal (área da barriga). Além da coleta de sangue, quando possível.
Nos animais vivos recebidos pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que também são vítimas de atropelamento e desmate de áreas, são coletadas amostras de sangue para a realização de exames, a fim de detectar o parasita.
Alessandra Nava aponta ainda que a melhor estratégia é entender quais os vetores envolvidos na transmissão e compreender sobre as áreas de maior ocorrência. Os animais silvestres são ótimos sentinelas de saúde ambiental, isto é, são espécies que podem indicar a circulação de um patógeno ou contaminante ambiental, possibilitando ao sistema de saúde a preparação para uma possível ameaça para saúde humana.
“Cada vez mais, a vigilância de patógenos com potencial zoonótico é estratégico para o Bioma Amazônico, para entendermos quais patógenos estão circulando e quais áreas são prioritárias para risco e quais alterações na paisagem (desmatamento, ocupações humanas) podem aumentar esses riscos”, disse ela.