Entre os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia, o aumento do preço da gasolina é um dos que mais preocupam representantes do mercado e governos ao redor do mundo. A antiga União das Repúblicas Socialista Soviéticas (URSS) é o segundo maior exportador e terceiro maior produtor de combustível no mundo e, pela primeira vez na história, o preço do barril do petróleo ultrapassou U$$ 100.
A decisão do ex-presidente Michel Temer (2016-2018) de atrelar o preço da gasolina à moeda americana, portanto, deve continuar corroendo o poder aquisitivo dos cidadãos brasileiros. Por outro lado, a equipe econômica do governo Bolsonaro não apresenta medidas para tentar reverter essa tendência – e desagradar os acionistas, principais beneficiários da medida.
“O povo brasileiro não ganha em dólar. Em alguns locais, o valor supera os R$ 7 e o salário não acompanhou esse aumento”, observa o jornalista Anwar Assi, membro do Grupo de Estudo de Geopolítica do Oriente Médio e Internacionais. “Isso tem efeito cascata: sobe preço da comida, dos remédios e alimentos”, acrescentou.
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Em entrevista à rádio Onda Digital nesta segunda-feira (28), o jornalista analisou os últimos desdobramentos e a atuação de países como os EUA na guerra. “O governo Biden não tem uma relação muito boa com a Rússia e pretende desestabilizar o país. A Alemanha tem um projeto de gasoduto para obter gás natural a preço acessível dos russos. Esse gasoduto também acaba por criar um futuro melhor na Rússia. Isso não agrada a Biden porque fortalece a Rússia e a Alemanha que, desde o final da Segunda Guerra Mundial, não toma decisões sem consentimento dos EUA”, explica.
Independência
A Ucrânia integrou o grupo de países reunidos sob a sigla da URSS a partir de 1920. Com o fim do regime comunista na região, no início dos anos 1990, o ex-presidente da União Soviética, Mikhail Gorbatchev, determinou a abertura política e econômica daquelas nações. A Ucrânia foi uma das repúblicas que reivindicou independência. O pedido foi aceito pela Rússia, sob a condição de que o vizinho se mantivesse fora da influência ocidental, representada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Em 2014, o então presidente Viktor Yanukovych, aliado à Rússia, é derrubado. De acordo com Anwar, a ofensiva iniciada na quinta-feira é o prolongamento de um conflito que começou naquele ano.
“Veio um governo conservador, nacionalista, que autoriza a existência de grupos neonazistas. Vários grupos da extrema direita europeia estão se organizando para lutar contra os russos na Ucrânia. Esse grupos não aceitam o fato de a URSS ter derrotado o nazismo na Europa e querem vingança“, avalia.
Na manhã de hoje, delegações de ambos os países se reuniram para apresentar reivindicações e definir um eventual acordo de paz. O jornalista, contudo, não acredita em uma solução rápida a longo prazo.
“As demandas dos dois lados são bem acirradas. A Rússia tem preocupação de segurança e não quer que a Ucrânia faça parte da Otan, criada em 1949 para se contrapor à então União Soviética. Por outro lado, a Ucrânia quer sair da esfera de influência russa e entrar para a comunidade europeia via OTAN”, explicou. “Como conciliar? É difícil. Vai haver continuação do conflito”.
Daniel Amorim, da redação