Há exatamente um ano, o Amazonas vivia uma das maiores crises de saúde da sua história, se não foi a maior: a chamada hoje de segunda onda da pandemia de Covid-19, provocada na época pela variante gama do coronavírus.
A gama foi contribuição brasileira ao catálogo de variações mundiais do Covid, surgida aqui pela confluência das aglomerações das festas de fim de ano e o negacionismo presente na sociedade, que já se preparava para baixar a guarda e minimizava a gravidade da doença. Imagens de covas coletivas em cemitérios, correria por cilindros de oxigênio e pessoas desesperadas em hospitais impressionaram o planeta. No primeiro trimestre de 2021, cerca de 6.600 pessoas morreram no estado, um dos maiores índices per capita do mundo.
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O caos daqueles dias foi relembrado pelo assistente comercial Luciano Vilaça, 28. “Foi a pior experiência da minha vida”, disse Vilaça, cuja mãe de 65 anos contraiu a Covid. “Minha mãe ficou doente e decidimos tratar dela em casa, pois sabíamos que nos hospitais havia a crise do oxigênio”.
“Quando a doença se agravou, tivemos que recorrer ao oxigênio”, continuou Vilaça, “e encontramos nas empresas de O2 um cenário caótico. Tinha que ficar na fila por horas, às vezes até o dia todo. Uma bala [cilindro] de 10 litros durava um dia apenas, às vezes até menos. Ficamos uma semana recarregando as balas. Quando o médico disse que não haveria mais condições de tratar ela em casa, conseguimos interná-la no mesmo dia. Ela ficou na UTI por 24 dias”. A mãe dele sobreviveu, embora tenha ficado com um dos pulmões afetado pela doença.
Agora a história se repete: chega a terceira onda e os números impressionam. O número de casos confirmados passou de 37 em 1o. de janeiro, para 1.659 ontem, dia 13. Só no dia de ontem, a FVS (Fundação de Vigilância Sanitária) noticiou o diagnóstico de 2.404 novos casos no estado. É inegável agora que o Amazonas se encontra numa nova curva ascendente da doença, e até onde ela vai subir, é cedo para afirmar.
Se por um lado há um certo alento no momento atual em virtude de hoje termos vacinas que ajudam a mitigar a gravidade da situação, por outro velhos problemas persistem. O principal deles continua sendo o negacionismo: De novo, uma falsa sensação de segurança, de que a pandemia já tinha passado, prevaleceu e as aglomerações de fim de ano cobram seu preço. De acordo com dados da FVS, em relação à população vacinável no Amazonas, acima de 12 anos, 71,7% têm a cobertura vacinal completa. 98.868 pessoas com idade acima de 12 anos em Manaus não tomaram nem a primeira dose, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
O risco é para o colapso da rede hospitalar: Mesmo com o número de mortes em patamar baixo – no momento – é certo que a sobrecarga do sistema já começa a ser observada. Postos de testagem apresentam enormes filas. Alguns hospitais já começam a observar aumento expressivo na ocupação de leitos clínicos e de UTIs. Há preocupação com profissionais de saúde contraindo a doença e sendo forçados a deixar o trabalho. E nessa época do ano, também aumentam os casos de influenza e até de co-infecção com Covid.
O epidemiologista Jenssen Orellana, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) afirma que, com as internações nesse ritmo, “medidas urgentes e mais agressivas serão necessárias. Logo aumentarão as mortes evitáveis”. Agora é se preparar para a onda.
Com informações do UOL.