Márcio dos Santos Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP e condenado a mais de 50 anos de prisão por associação criminosa e lavagem de dinheiro, entre outras acusações, surpreendeu ao assumir um novo papel: o de acadêmico.
Nesta quinta-feira (18/04), ao lado de outros cinco presos condenados, ele foi empossado como membro da recém-criada Academia Brasileira de Letras do Cárcere (ABLC). Marcinho VP é apontado como um dos principais chefes do Comando Vermelho (CV), a maior facção do tráfico no Rio de Janeiro.
Marcinho VP está atrás das grades há 37 anos e, de dentro da cadeia, escreveu três livros: “Preso de guerra”, “Execução banal comentada” e “Marcinho — Verdades e posições”. Ele ocupa a cadeira número 1 da ABLC, batizada com o nome do escritor Graciliano Ramos.
Nepomuceno está cumprindo pena no regime fechado na penitenciária de segurança máxima de Campo Grande (MS). Devido à impossibilidade de participar pessoalmente, ele foi representado na cerimônia por sua família, que incluía sua mãe, esposa e uma advogada.
Em nota, Paloma Gurgel, advogada de Marcinho VP e coautora da obra “Execução banal”, afirmou que, embora ainda esteja preso, seu cliente “não deve mais nada ao Estado”, pois teria atingido o limite máximo de cumprimento de pena no Brasil.
“Os crimes as quais foi condenado já foram pagos”, frisou, acrescentando que Nepomuceno virou um escritor com obras “de grande magnitude”, que “consegue sobreviver” no cárcere “escrevendo livros através de cartas”.
Para Gurgel, o convite para ingressar na ABLC representa um reconhecimento “pelo seu esforço e dedicação em se ressocializar através da produção literária”.
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Iniciativa
Academia Brasileira de Letras do Cárcere (ABLC) surgiu a partir da visão do desembargador aposentado Siro Darlan. Ele relata que a inspiração para o projeto veio das penitenciárias do país, onde muitos presos desenvolveram o hábito da leitura dentro de suas celas.
Esse interesse cresceu em parte devido à oportunidade oferecida pela Lei de Execuções Penais, que permite a redução da sentença em até quatro dias por obra lida e resenhada. De acordo com essa legislação, um detento pode ler até 12 livros por ano, conseguindo, assim, remir até 48 dias de sua pena.
“A Academia Brasileira de Letras do Cárcere surge como uma iniciativa pioneira destinada a reconhecer e valorizar as obras de escritores que produzem literatura mesmo estando privados de liberdade. Seu principal propósito é oferecer uma plataforma para que esses autores expressem suas vozes e compartilhem suas histórias, contribuindo assim para a diversidade e a riqueza da literatura nacional”, diz o texto de apresentação da entidade.
Os seis detentos que tomaram posse na ABLC não tiveram a qualidade de suas obras avaliadas para se tornarem membros. O principal critério para um detento ingressar na academia é tão somente ter um livro publicado.
Saiba quem são os primeiros integrantes da ABLC
*Com informações O Globo