Com as citações do presidente da França, Emmanuel Macron, que seu governo iria se opor ao acordo de livre comércio com o Mercosul, em uma tentativa para conter a greve dos agricultores no país, as principais economias da Europa, França e Alemanha, entram em desacordo do livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
Para a indústria de veículos da maior economia da Europa, o pacto entre os dois blocos poderia ser dividido em dois, salvando pelo menos parte das negociações que já entram em seu 25º ano.
O tema estará na agenda da cúpula da Europa, nesta quinta-feira (31/1) em Bruxelas.
“A Comissão Europeia entendeu que era impossível concluir as negociações nesse contexto”, disse uma autoridade francesa.
Bruxelas, porém, negou essa versão. Michael Hager, chefe de gabinete do comissário europeu para o comércio exterior Valdis Dombrovskis, esclareceu que “não há nenhuma parada”.
Macron continuou defendendo a posição de Paris, na última terça-feira (30/1), na decisão contrária a qualquer abertura do mercado agrícola para a concorrência sul-americana e criticou o pacto, indicando que a França não assinaria o acordo da forma que está sendo proposto.
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Os argumentos dos últimos anos de Macron, utilizando o desmatamento gerado pelas políticas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), agora usa o argumento social para impedir a entrada de produtos brasileiros no seu mercado.
Nesta quarta-feira (30/1), numa entrevista à rede de TV CNEWS, o ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, deixou claro que Paris vai pressionar a Comissão a interromper as negociações com o Mercosul.
“Quando a França quer algo na Europa, ela tem o poder de se impor”, disse.
“A França irá fazer de tudo para garantir que o acordo com o Mercosul não será assinado da forma que está”, insistiu.
“O acordo não pode e não deve ser assinado”, completou.
Mas, para a Alemanha, rejeitar um acordo com o Mercosul não faz sentido, principalmente diante do interesse exportador do setor de carros.
“O governo alemão continua firmemente comprometido com a conclusão das negociações com os países do Mercosul, o mais rápido possível”, disse um porta-voz do Ministério da Economia alemão, em resposta ao veto francês.
Berlim destacou que, há poucas semanas, o chanceler alemão Olaf Scholz telefonou para o novo presidente argentino Javier Milei. Ambos “concordaram que as negociações sobre o acordo devem ser finalizadas rapidamente”.
Dividir o acordo
A principal pressão entre os alemães vem da esperança da indústria automobilística de garantir seu espaço no mercado latino-americano, cada vez mais cobiçado por montadoras chinesas e asiáticas.
“As negociações para um acordo com o Mercosul estão se arrastando há mais de 20 anos”, disse Hildegard Müller, diretora da Associação da Indústria Automotiva Alemã (VDA).
Segundo ela, a UE não consegue avançar em nenhum acordo e projetos com a Austrália e México também enfrentam barreiras.
“Todo acordo que não é concluído fortalece os outros e nos enfraquece”, alertou Müller.
A proposta dos alemães, portanto, é a de dividir o acordo UE-Mercosul em dois. Com isso, o trecho que lida com a aplicação de tarifas poderia entrar em vigor, enquanto o restante continuaria sendo negociado, principalmente no que se refere aos temas ambientais.
“Fazemos acordos excessivamente complexos e acabamos nos prejudicando porque não conseguimos alcançar nada em nenhuma das áreas econômicas”, criticou Müller.
“Às vezes, é possível ver que as pessoas ficam presas em uma única questão. Nas [negociações com] o México é a política energética, no Mercosul é a política agrícola, e todos os outros setores sofrem com isso”, disse ela.
“Portanto, também devemos considerar se esses acordos comerciais devem ser divididos em partes para que possam ter efeito”, defendeu.
O governo de Olaf Scholz sinalizou que é favorável à proposta de sua indústria. Mas Paris já avisou que não aceitaria o caminho proposto pelos exportadores em Berlim.
*com informações UOL