Depois do registro como o país mais fértil da União Europeia, em 2021, segundo a Eurostat, a França teve uma queda na taxa de natalidade de todas as idades, incluindo as com mais de 30, “nada ou pouco afetadas pelo declínio da fertilidade” antes da crise da pandemia. Esse índice veio diminuindo todos os anos entre 2015 e 2020, depois de ter oscilado em torno de dois filhos por mulher entre 2006 e 2014.
De acordo com o órgão oficial francês responsável pela coleta, análise e publicação de dados e informações sobre a economia e a sociedade da França, o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee), a queda da taxa de natalidade (relação entre nascimentos vivos e população total) se deve principalmente à queda da taxa de fecundidade (relação entre nascimentos vivos e mulheres em idade reprodutiva), que situou decadência de 6,6% na taxa de natalidade em 2023, com relação a 2022.
Segundo a chefe da unidade de estudos demográficos do Insee, durante uma coletiva de imprensa, muitos fatores contribuem.
“Há, sem dúvida, muitos fatores em jogo”, comentou Sylvie Le Minez.
“O contexto econômico de inflação elevada” e a questão da “conciliação entre a vida familiar e a profissional” que poderiam afastar algumas pessoas da maternidade, foram exemplificados por Minez.
Incentivos à natalidade
A França sempre proporcionou à sua população estrutura para incentivar a maternidade com ajuda às famílias, creches e escolas em período integral. No entanto, a incerteza da conjuntura econômica, marcada por uma forte inflação, empregos instáveis e precários, poderia ter superado os programas de estímulo à natalidade na França.
Os demógrafos acreditam que existe uma ligação entre as medidas pró-natalistas e a fertilidade, mas que continua difícil de medir.
Atualmente, a questão do equilíbrio entre vida profissional e familiar é um elemento fundamental, segundo Laurent Toulemon, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Estudos Demográficos (Ined)
“Políticas públicas eficazes são aquelas que facilitam a vida dos pais. Assim, as pessoas que hesitam em se arriscar e ter um filho veem que isso não envolve um sacrifício intransponível”, disse.
Por outro lado, as medidas pró-natalistas que consistem em dar bônus financeiros no momento do nascimento permanecem ineficazes.
“As pessoas sabem que ter filhos envolve despesas a longo prazo”, sublinha o demógrafo.
Ele observa que há uma questão de “confiança” e “credibilidade” nas medidas propostas. Na França, onde a fertilidade permanece relativamente elevada, existe há décadas uma política familiar “sólida”.
Já na Coreia do Sul, apesar de uma política pró-ativa, a fertilidade continua baixa.
“As mulheres sabem que ainda terão de fazer enormes sacrifícios para criar os filhos, devido às normas sociais”, cita.
O contexto de guerra na Ucrânia e no Oriente Médio e a crise climática também criam um “clima de incerteza” que pode frear a vontade de ter um filho, de acordo com Catherine Sornet, professora, socióloga e pesquisadora em demografia da Universidade de Aix-Marseille, no sul da França.
“Para fundar uma família, é necessário ter esperança. Ora, as gerações mais jovens têm mais preocupações quanto ao futuro”, comenta.
Ela também cita mudanças de aspirações. Algumas pessoas decidem ter menos ou nenhum filho por “razões de liberdade”, ligadas à “emancipação individual” e dar prioridade a outros projetos.
“As mulheres diplomadas são as que se projetam mais fora da maternidade, elas investem e se realizam em outros domínios pessoais ou profissionais”, definiu.
*com informações RFI