O ex-chefe do gabinete de documentação histórica (GADH) da Presidência da República, Marcelo da Silva Vieira, deu entrevista à imprensa nesta terça, 5, e afirmou que o ex-ajudante de ordens da presidência, Mauro Cid, tratava todos os presentes recebidos ao longo do governo como personalíssimos, ou seja, de propriedade privada do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Cid é peça-chave na investigação sobre venda ilegal de joias e presentes recebidos pelo governo Bolsonaro, e está preso na sede da Polícia Federal em Brasília desde maio.
O GADH é o setor que define se presentes recebidos por presidentes são pessoais ou da União. Na entrevista à Globo News hoje, Vieira disse:
“O Cid já chegava dizendo que aquilo era personalíssimo. E eu falava assim: ‘pelo amor de Deus, isso não é personalíssimo’. Passei quatro anos explicando isso para ele. E ele continuou. Eu não sei se ele não entendia ou se entrava por um ouvido e saía pelo outro”.
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Vieira também disse que Cid não consultou formalmente o GADH sobre a possibilidade de venda de presentes recebidos pela Presidência, mas falou sobre isso “em conversas informais”. Ele afirmou:
“Ele [Mauro Cid] nunca falou de forma específica, pelo amor de Deus, que fique claro. Nunca. Sempre: ‘Pode vender? Pode, desde que cumpra’. Então eu entendo que, se tinha o desejo de vender, isso cabe ao titular do acervo, que é o presidente da República”.
Segundo a legislação brasileira, quando bens do acervo presidencial são colocados à venda, a União tem preferência de compra e precisa autorizar expressamente a comercialização.
Vieira, que já prestou depoimento à PF, ainda afirmou que Cid lhe procurou pedindo que assinasse um ofício para autorizar a liberação de kits de joias retidos na Receita Federal. O ex-chefe do GADH disse que ligou para Cid e afirmou que não assinaria o ofício porque o presente era destinado ao Estado brasileiro e não ao acervo privado do presidente. Cid então lhe pediu que explicasse a questão a Bolsonaro.
Vieira declarou:
“Aí ele [Cid] estava do lado do presidente, e ele passa e fala: ‘Marcelo, então explica pro chefe’. Eu resumidamente explico isso pro chefe – o chefe, o presidente da República – e aí ele só fala assim: ‘Ok, obrigado’, e desliga. Daí eu falei, bom, tranquilo”.
A PF investiga se houve repasse dos recursos provenientes da venda dessas joias para Bolsonaro ou a ex-primeira-dama Michelle. Semana passada, ambos ficaram em silêncio em depoimento à PF sobre a investigação.