Wagner Rodrigues é tocantinense de Formoso do Araguaia, entretanto, migrou para Araguaína em 1999. É graduado em pedagogia e, também, possui formação em Orçamento Público: gestão financeira, elaboração de emendas, execuções orçamentárias e receitas oriundas de impostos, além de profunda experiência em gestão pública.
Exerceu o cargo de secretário parlamentar do gabinete do então deputado federal, Ronaldo Dimas, entre 2003 e 2006. Após o término do mandado de Dimas prosseguiu na mesma função, até 2012, assessorando outros deputados federais. Foi secretário-chefe de Gabinete de Araguaína entre 2013 e 2020 e eleito prefeito da cidade nas últimas eleições, após obter 50,87% dos votos.
Nesta entrevista exclusiva a Rede Onda Digital, sucursal Tocantins, ele expõe as dificuldades decorrentes da falta de repasses de recursos por parte do governo federal, como também, explica como tem conseguido driblar essas adversidades e tornar a cidade de Araguaína mais próspera a cada dia.
Confira a entrevista:
O senhor participou da mobilização dos prefeitos em Brasília, organizado pela Confederação Nacional dos Municípios há alguns dias atrás, quando fez algumas reivindicações e abordou demandas inerentes a praticamente todos os municípios brasileiros. Qual é o balanço, positivo ou negativo, do manifesto?
Somando esforços com ATM – Associação Tocantinense dos Municípios, alguns prefeitos tocantinenses foram na mobilização no Distrito Federal, defendendo os interesses dos municípios, porque temos visto a arrecadação despencar. O FPM de todos os municípios também tem sofrido queda, o que faz com que todos nós enfrentemos muitas dificuldades. Essa queda nos penaliza e, por consequência, afeta a população. Ao mesmo tempo, não podemos falar em aumento de impostos para suprir esses déficits.
“Tenho visto muitos empresários ainda muito receosos em fazer investimentos nas cidades ou desconfiados do futuro, em razão dessa mudança no governo federal, que diga-se de passagem, tem causado uma instabilidade muito grande na economia. Paralelo a isso, vejo a necessidade dos governos, tanto federal, quanto estadual, ajudar os municípios porque é nas cidades que as coisas acontecem é onde a população vive. São os prefeitos que enfrentam os primeiros impactos quando há crises”.
Mas essa queda do FPM atingiu também drasticamente os municípios que tem outras fontes de arrecadação como, por exemplo, Araguaína?
“Sem dúvidas, apesar de comprometer mais os municípios pequenos que vivem exclusivamente dessa fonte de renda, os maiores também experimentam dificuldades quando esses valores diminuem. Vou passar um dado para exemplificar: durante o ano de 2022, recebemos cerca de R$ 10 milhões mensalmente a título de FPM. Em contrapartida, em 2023, os repasses para o município de Araguaína dificilmente chegam a R$ 6 milhões de reais por mês. Nestas circunstâncias, enfrentando quedas de cerca de R$ 3,5 milhões a cada mês, evidentemente que administração da máquina administrativa fica comprometida, como também, dilacera quaisquer planejamentos”.
Tenho estimativa de crescimento da receita própria, baseada na arrecadação de IPTU e outras taxas que deram um “plus” de 9%, mas ao mesmo tempo, enfrentamos quedas drásticas no repasse do ICMS também do FPM, o que é muito significativo. Na linha oposta, continuo arcando com salários mensais, corrigidos de acordo com a data base e que traz custos para municipalidade. Logicamente, se as receitas caem fica difícil fechar a conta.
Na reunião no DF, o senhor reclamou também de repasses atrasados por parte do SUS, que também tem lhe causado problemas na administração da Saúde no município…
Grande parte dos repasses que vão para a média e alta complexidade, como temos por aqui – e são poucos municípios do Tocantins que possuem! – vem quase na sua totalidade de emendas parlamentares. Cinquenta por cento das emendas dos deputados e senadores devem ser destinadas à saúde e eles assim fazem. Contudo, o governo federal não vem cumprindo com sua parte, uma vez que vem efetuando esses repasses aos municípios. Vamos para oito meses sem ajuda para custeio da baixa complexidade (atenção básica), como também da alta. Tenho emendas para receber do senador Irajá e, também, do Eduardo Gomes. Há outras dos deputados Vicentinho Júnior, Lázaro Botelho, Alexandre Guimarães, Carlos Gaguim, ente outros, todavia, o Governo Federal não empenha as emendas para serem pagas. Isso complica demais a administração da saúde no município.
O Senhor acredita na força dessa mobilização em Brasília para que essa realidade seja mudada?
Acredito, porque a força dos prefeitos é muito grande. Nesta semana já começaram a sinalizar que ocorrerão empenhos por parte do governo federal a vários municípios tocantinenses. Quero crer que, em breve, essa realidade vai mudar e o governo federal vai começar a normalizar esses repasses.
“Mantenho aqui na cidade numa UPA infantil, denominada PAI – Pronto Atendimento Infantil, que o município está bancando sozinho. Por isso fiz gestão junto a CIB (Comissão Bipartite) para que o Estado do Tocantins também me ajude a manter essa unidade de atendimento. Numa reunião extraordinária o Estado já sinalizou que irá fazê-lo, uma vez que as nossas dificuldades que foram reconhecidas. Essa responsabilidade com a saúde é tripartite: União, Estado e Município. No meu caso, estou aplicando 41% das receitas na saúde, porém, sem a ajuda dos outros dois entes, será impossível manter a UPA infantil separada da adulta”.
Também é importante frisar que a cidade é como se fosse um polo referencial para a região norte do Tocantins e Estados circunvizinhos e, nessas circunstâncias, atendemos pacientes de todas as cidades próximas, num total de 64 municípios. Trata-se do único Hospital Infantil da região norte do Tocantins e 100% gratuito. Quero manter os serviços, dar assistência médica a população, não demitir servidores, mas preciso de ajuda.
O Senhor acredita que esses entraves que o governo federal tem colocado tem como pano de fundo a reforma tributária?
Infelizmente, eu não tenho dúvidas disso. Muitos dizem que não, mas o governo federal vem segurando muitas coisas para fazer disso uma banca de negociação. Eu trabalhei 12 anos da minha vida no Congresso Nacional, assessorando parlamentares. Eu sei exatamente como funciona. Mas esse governo não pode ser tão avassalador, tão desumano com os municípios pequenos que, muitas vezes, contam apenas com uma UBS. Eles não tem condições de se manter sem essa contrapartida do governo federal.
Falando de política, o senhor já pensa em reeleição?
“Verdadeiramente, estou muito focado na minha gestão e muito preocupado mesmo em cumprir os compromissos que eu fiz. Tenho me empenhado em cumpri-los. Mas é natural que essas conversas político-partidárias sempre ocorram e, muitas vezes, fazemos encontros com correligionários que desejam nossa candidatura em 2024. Falamos de união de forças políticas e temos encontros de lideranças políticas de Araguaína, Porto, Paraíso, Gurupi visando formar um grupo forte fazer boas frentes no futuro. Faz parte do processo político”.
Contudo, hoje minha preocupação é com a gestão. Tenho 43 frentes de serviço na cidade, para se ter uma ideia. São obras impactantes nas vidas das pessoas e, neste momento, estou muito focado nisso.
Qual seriam elas?
Duas delas realmente são de grande porte. Estamos fazendo a drenagem profunda do Córrego Baixa Funda, com vias marginais dos dois lados, orçada em R$ 94 milhões de reais. Essa primeira etapa tem participação direta, através de emendas parlamentares, do Senador Eduardo Gomes; já na segunda etapa, mais recursos do senador e também da professora Dorinha e outros direcionados pelo então Deputado Tiago Dimas, ainda na legislatura anterior. Já terceira fase da obra, contará com emendas – na sua totalidade – do Senador Eduardo Gomes. Trata-se de uma obra que vai transformar a realidade daquele local e vai levar o nome do saudoso Senador João Ribeiro, que tanto fez pelo nosso Tocantins.
“Já a outra obra é no centro da cidade, que também é uma drenagem, desta feita do Córrego neblina e Córrego Planalto, muito parecida com a primeira. Essa vai levar o nome do ex-governador José Wilson Siqueira Campos. Daí surgirão três parques que vão proporcionar muito lazer para a população. Uma obra magnífica que vai marcar mais um momento de transformação na mobilidade urbana da cidade”.
Nós também conseguimos um transformar uma parte da cidade que, há muito tempo, pedia por soluções. É o caso da “feirinha”. Revitalizamos aquele local, que hoje está cumprindo seu verdadeiro papel social. Nessa mesma linha, vamos também praticamente reconstruir o mercado municipal, visando dar mais conforto aos feirantes e comerciantes, como também a população. São incentivos que estou dando ao empreendedorismo, permitindo que as pessoas tenham condições de tocar seus pequenos comércios com dignidade, gerando emprego e renda para a cidade. São iniciativas como esta que vão modificar a vida de muitas pessoas no município.
E no que se refere a sua gestão no tocante a educação?
Tenho muito orgulho do legado que estamos deixando nessa área. Está em curso amplas reformas nas trinta e sete escolas localizadas nas áreas urbana e rural. Uma das nossas escolas tem mais de 1.500 alunos e vai servir como referência de escola de tempo integral para o FNDE, de forma que o governo federal pretende adotar como padrão para todo país.
O senhor poderia falar sobre as suas relações políticas com os parlamentares que atualmente são detentores de mandato?
Minha relação tem sido muito boa com quase todos eles. Dois deputados estaduais aqui da cidade, que ajudamos a eleger, estão mais próximos que é o Marcos Marcelo e o Aldair Gipão. Já com a bancada Federal, minha relação é excepcional e quase todos eles estão empenhados em destinar emendas parlamentares e contribuir com o progresso de Araguaína. Os três senadores tem feito muitos empenhos para ajudar a nossa população e só nesse ano já mandaram mais de R$ 70 milhões. Esse valor é muito expressivo. A bancada federal como um todo está coesa nesse sentido e considero isso como fruto de uma boa relação que tenho com eles, como também, pela importância e representatividade que a cidade tem no cenário Tocantinense.
Qual é a sua mensagem final nesta entrevista?
Estou muito feliz com o trabalho que tenho feito, dia após dia, em prol da nossa comunidade. Gosto da frase de impacto: conheçam Araguaína, se apaixonem por ela e venha investir aqui!