O tenente-coronel Mauro Cid, preso preventivamente há três meses em uma cela do Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília, decidiu denunciar, após se manter em silêncio em depoimentos, Jair Bolsonaro como mandante na venda das joias, relógios, canetas e outros presentes recebidos pelo ex-presidente durante o seu mandato.
O assunto é capa da revista Veja. A confissão de Cid, foi confirmada ao veículo pelo criminalista Cezar Bitencourt, advogado de Cid.
De acordo com o veículo, Cid vai confirmar que participou da venda das joias nos Estados Unidos, providenciou a transferência para o Brasil do dinheiro arrecadado e o entregou a Jair Bolsonaro, em espécie, para não deixar rastros. Bitencourt disse ainda que partiu do próprio Cid a solução de usar uma conta bancária nos Estados Unidos, em nome do pai dele, o general Mauro Lourena Cid, para receber os pagamentos pelas joias negociadas. Os valores posteriormente eram enviados ao Brasil.
No entanto, o tenente-coronel não vai assumir sozinho a responsabilidade pelo que aconteceu. Ele vai dizer às autoridades que fez tudo isso cumprindo ordens diretas do então presidente da República, que seria o mandante do esquema.
Ainda segundo Bitencourt, Cid dirá à Justiça que negociou as mercadorias por ordem do chefe. “Resolve lá”, teria dito Bolsonaro, numa determinação que incluía ainda trazer para o Brasil o dinheiro amealhado.
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“A relação de subordinação na iniciativa privada é uma coisa. O funcionário pode cumprir ou não. No funcionalismo público, é diferente. Em se tratando de um militar, essa subordinação é muito maior”, explica o advogado.
Esta confissão deve contradizer a defesa de Bolsonaro, que disse que “jamais se apropriou ou desviou quaisquer bens públicos”.
Em março deste ano, o ex-presidente teria, inclusive, devolvido “voluntariamente” algumas das joias que estavam em seu poder. A defesa também alegou que, por considerar alguns presentes como sendo “personalíssimos”, ou seja, que não pertenciam ao acervo público, podia dar a eles a destinação que bem entendesse. Como não tinha interesse em ficar com determinados itens, Bolsonaro teria recebido a sugestão de vendê-los, mas só soube os detalhes de como as negociações haviam sido feitas através da Polícia Federal.
De acordo com PF, investigações contra Cid começaram apontando o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro de ter falsificado cartões de vacinação dele, de sua família e do próprio ex-presidente da República.