O hacker Walter Delgatti Neto, conhecido por ter invadido celulares e vazado mensagens atribuídas a Sergio Moro e a integrantes da Operação Lava Jato em 2019, está depondo nesta quinta-feira, 17, à CPI mista do 8 de janeiro em Brasília. Delgatti disse que a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro tinha um plano para forjar um ataque às urnas eletrônicas brasileiras; que o ministro Alexandre de Moraes tinha sido grampeado; e que Bolsonaro concederia um indulto presidencial ao hacker caso fosse preso pelo grampo.
Delgatti respondeu a questionamentos feitos por parlamentares da base governista. Segundo o hacker, ele participou de uma reunião com assessores da campanha de Bolsonaro em outubro de 2022. Nessa reunião estariam o marqueteiro da campanha, Duda Lima, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e a deputada Carla Zambelli (PL-SP), outras pessoas ligadas à parlamentar. A ideia de um plano para fraudar uma urna eletrônica inserindo um código-fonte falso partiu de Lima, segundo o hacker.
Delgatti disse à CPI:
“A segunda ideia era no dia 7 de setembro, eles pegarem uma urna emprestada da OAB, acredito. E que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro.
O código-fonte da urna, eu faria o meu, não o do TSE. Só mostrando, a população vendo que é possível apertar um voto e imprimir outro. Era essa a ideia”.
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O hacker disse que não chegou a operar com o próprio código-fonte do TSE (Tribunal Superior Eleitoral):
“Eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o oficial do TSE. E nesse código-fonte, eu inserisse essas linhas, que eles chamam de ‘código malicioso’, porque tem como finalidade enganar, colocar dúvidas na eleição”.
Delgatti e Zambelli recentemente foram alvos de operação da PF por terem supostamente cometido uma invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para a inclusão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
REUNIÃO COM BOLSONARO, GRAMPO E INDULTO
Ele ainda afirmou que participou de uma reunião com Bolsonaro em 2022 no Palácio da Alvorada, na qual ouviu que o governo já tinha conseguido grampear o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Bolsonaro teria pedido a Delgatti que assumisse a autoria do grampo, e que se ele fosse preso pelo crime, o mandatário lhe concederia um perdão presidencial.
Segundo Delgatti, a reunião foi intermediada por Zambelli. Ele disse:
“Ela pegou um celular que estava com ela, enviou mensagem a alguém e o presidente da República entrou em contato comigo.
E segundo ele [Bolsonaro], eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes. Que teria conversas comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo.
Lembrando que, à época, eu era o hacker da Lava Jato, né. Então, seria difícil a esquerda questionar essa autoria, porque lá atrás eu teria assumido a ‘Vaza-Jato’, que eu fui, e eles apoiaram. Então, a ideia seria um garoto da esquerda assumir esse grampo”.
O grampo contra Moraes, segundo o que Delgatti ouviu de Bolsonaro, teria sido feito por estrangeiros. Ele não chegou a acessar as conversas supostamente grampeadas, e não sabe se elas existem de fato.
Questionado pela relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), se recebeu garantia de proteção do ex-presidente, Delgatti respondeu:
“Sim, recebi. Inclusive, a ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal. E como eu estava com o processo da Spoofing à época, e com as cautelares que me proibiam de acessar a internet e trabalhar, eu visava a esse indulto. E foi oferecido no dia”.
PROPOSTA DE TESTAR SEGURANÇA DAS URNAS
Delgatti também disse que Bolsonaro lhe perguntou se ele conseguiria invadir urnas eletrônicas, para testar a integridade dos aparelhos:
“Apareceu a oportunidade da deputada Carla Zambelli, de um encontro com o Bolsonaro, que foi no ano de 2022, antes da campanha. Ele queria que eu autenticasse… autenticasse a lisura das eleições, das urnas. E por ser o presidente da República, eu acabei indo ao encontro. […] Lembrando que eu estava desemparado, sem emprego, e ofereceram um emprego a mim. Por isso que eu fui até eles”.
Bolsonaro teria pedido a Delgatti que assessores o levassem a técnicos do Ministério da Defesa, para que pudessem ajudá-lo em sua avaliação:
“A ideia era falar sobre as urnas e sobre a eleição, e sobre a lisura das urnas. E a conversa, ela foi bem técnica, até que o presidente me disse. Falou assim: ‘Olha, a parte técnica eu não entendo, eu irei enviá-lo ao Ministério da Defesa e lá, com os técnicos, você explica tudo isso'”.
O hacker afirmou que foi levado ao Ministério da Defesa pelo general Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro. O hacker afirmou ainda que a ideia inicial era que ele inspecionasse o código-fonte das urnas. No entanto, os servidores do Ministério da Defesa explicaram que o código ficava somente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e que só servidores poderiam ter acesso.
Delgatti também disse que atendeu às ordens do então presidente por “medo”. Questionado se sabia que estava cometendo algo errado, ele disse:
“Sim, eu sabia, e lembrando que era ordem de um presidente da República. […] Então, eu estava… tanto que eu entrei em contato com a ‘Veja’ e relatei isso por medo”.
Mais informações em breve…