Em 2022, o Brasil registrou o maior número da história de casos de estupros, incluindo também estupros de vulneráveis. De acordo com dados da 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados nesta quinta-feira (20), o país apresentou no ano passado 74.930 casos de estupro.
Trata-se de 6.244 casos por mês, ou 205 registros do crime por dia.
O levantamento considera casos de ocorrências que foram informados às autoridades policiais. Como nem todos são registrados, pode haver subnotificação.
Segundo a série histórica do Anuário, 2022 apresentou o maior número de casos. Houve também um crescimento de 8,2% na comparação com 2021, quando foram contabilizadas 68.885 ocorrências.
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Das vítimas, 61,4% que tiveram ocorrência registrada tinham no máximo 13 anos. De acordo com os dados, a maior alta se deu justamente entre estupros de vulneráveis, com 8,6%. Em 2021, foram 52.057 casos registrados, e, em 2022 passou para 56.829.
Seis em cada dez vítimas têm entre 0 e 13 anos, e foram abusadas principalmente por familiares ou outros conhecidos.
O Amazonas é o estado em que houve maior alta no número de estupros. Entre os casos de vulneráveis, em números absolutos, o salto foi de 388 para 591 casos. O estupro de vulnerável é caracterizado por qualquer ato libidinoso contra vítima menor de 14 anos, mesmo sem conjunção carnal.
Considerando apenas os casos de estupros entre não-vulneráveis, o Amazonas também é o estado que apresentou maior alta. Veja os estados com maior aumento de casos:
- Amazonas: passou de 603 para 836 (aumento de 37,3%)
- Roraima: passou de 553 para 726 (aumento de 28,1%)
- Rio Grande do Norte: passou de 696 para 991 (aumento de 26,2%)
- Acre: passou de 593 para 745 (aumento de 24,4)
- Pará: passou de 3.669 para 4.557 (aumento de 23,5).
O levantamento também analisou dados de tentativas de estupro. De 2021 para 2022, o número aumentou 3%, de 4.482 para 4.639. Casos de assédio sexual também tiveram aumento: 48,7%.
Em 2022, 88,7% das vítimas de estupro se identificavam pelo sexo feminino e 11,3%, pelo masculino. E pessoas negras seguem sendo as principais vítimas da violência sexual: em 2022, foi de 56,8% a porcentagem de vítimas pretas ou pardas.
A pesquisadora Samira Bueno atribui a explosão de casos à reabertura das escolas no período pós-pandêmico. Ela diz:
“Assumindo que este é o crime que tem a maior subnotificação no mundo inteiro, que aumentou a exposição de crianças à violência, que a violência sexual, especialmente a de crianças, acontece dentro de casa e que o autor é conhecido (em geral, é uma violência intrafamiliar), é muito provável que, em 2022, a gente tenha tido uma demanda reprimida de casos que já vinham acontecendo desde 2020, porque essas crianças voltaram para as escolas.
É sempre no horário em que a mãe foi trabalhar, e a criança ficou sozinha, quando a creche está fechada, por exemplo, que o abusador aproveita. E, justamente no ano passado, quando tivemos a reabertura das escolas, essas denúncias vieram à tona”.