De acordo com reportagem da revista Veja, foram encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, mensagens e um documento indicando que um golpe de estado chegou a ser cogitado no momento posterior às eleições presidenciais de 2022. Cid está preso desde o mês passado com relação a uma adulteração dos dados de vacina do ex-presidente e de pessoas do seu entorno.
No material obtido, Cid foi cobrado por membros das Forças Armadas para convencer Bolsonaro a seguir com um golpe de Estado, após a vitória de Lula nas eleições. O principal interlocutor de Cid, e quem mais pede por essa intervenção, é o coronel Jean Lawand Junior, subchefe do Estado-Maior do Exército, e a maioria das conversas ocorreu ao longo de dezembro do ano passado.
Estas são algumas das mensagens de Lawand a Cid, encontradas no celular deste último:
“Convença o 01 a salvar esse país!”, referindo-se a Bolsonaro.
“Cid, pelo amor de Deus, o homem [Bolsonaro] tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, da divisão para baixo está. Assessore e dê-lhe coragem”.
“Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara”.
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As respostas de Cid a Lawand foram na maioria vagas, com um “infelizmente” quando Lawand reconheceu que um golpe não aconteceria, e “muita coisa acontecendo” após mensagens estimulando a mobilizar Bolsonaro para cometer o ato antidemocrático.
De acordo com a perícia no celular, algumas das mensagens vieram de um grupo de militares da ativa em aplicativo, e outras também foram trocadas entre Gabriela Cid, esposa de Mauro, e Adriana Villas Bôas, filha do general Eduardo Villas Bôas.
Também foi encontrado um roteiro passado para Cid, intitulado “Forças Armadas como poder moderador”, com três páginas, onde se descrevia um plano para pôr em ação um golpe. Ele teria como base uma tese de que, quando há conflito entre os Poderes, as Forças Armadas poderiam ser chamadas para intervir.
Primeiro seria nomeado um interventor, “que coordenará as medidas de restabelecimento da ordem constitucional”, e sob quem ficaria o comando das Forças Armadas e instituições de segurança. Depois, haveria afastamento de membros do Judiciário e a criação de novas vagas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Então, novas eleições seriam convocadas.
Segundo interlocutores, o presidente Lula já teria determinado que o coronel Jean Lawand Júnior, que agora está lotado em Washington, perca o cargo imediatamente. O comandante do Exército, general Tomás Paiva, já decidiu que Lawand será substituído da missão nos Estados Unidos.
Em depoimento recente à Polícia Federal, Cid se recusou a falar.